Blog Panorama Espacial Entrevista Diretor do INPE
Olá leitor!
Segue abaixo uma entrevista com o diretor do INPE, Leonel
Fernando Perondi, postado hoje (04/11) no blog “Panorama Espacial” do
companheiro André Mileski, centrada que foi nos
programas de segmento espacial do instituto, ou seja, nos projetos de satélites.
Duda Falcão
Entrevistas:
Leonel Perondi, diretor do INPE
André Mileski
04/11/2013
Conforme revelado na última
quinta-feira, damos início hoje à série "Entrevistas". O primeiro
entrevistado foi Leonel Fernando Perondi, que desde maio de 2012 é diretor do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), principal instituição executora dos programas de
satélites nacionais.
A conversa foi centrada nos
programas do Instituto no segmento espacial, isto é, satélites. Apresentamos a
seguir os principais trechos. No final da entrevista, incluímos pequenos
comentários elaborados pelo blog Panorama
Espacial, identificados ao longo do texto (entre colchetes e destacados
em itálico e grifados) analisando e dando algumas informações adicionais sobre
os tópicos abordados.
CBERS e Política Industrial
A entrevista, realizada por
telefone, começou abordando o principal projeto de satélite desenvolvido pelo
INPE: o programa do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS).
Perondi destacou a entrada do programa em sua segunda fase, com a expectativa
para o lançamento do primeiro satélite da segunda geração, o CBERS 3, no
próximo mês de dezembro. O CBERS 4 deverá ser lançado dois anos depois.
Mencionou ainda o fato do satélite contar com quatro sensores óticos e também
com um transpônder de coleta de dados, que reforçará o Sistema Brasileiro de
Coleta de Dados Ambientais (SBCD). Deu também ênfase ao seu caráter industrial,
enfatizando o fato de que os dois modelos foram contratados junto à indústria
nacional, gerando ao todo cerca de R$370 milhões em contratos. "É
essencialmente um programa de política industrial", destacou.
Questionado sobre a
continuidade do programa, o diretor afirmou que existem discussões visando uma
nova geração, e que esta é a posição do INPE, na qualidade de executor da
missão. "Mas, tem que ter sempre o elemento de inovação". Em
sua opinião, o CBERS trouxe visibilidade internacional, mas é preciso ir além. "[Hoje],
são satélites de rotina para a China, e esta é a nossa ideia também".
Perondi entende que as próximas
unidades, em caso de continuidade, podem ser inteiramente contratadas junto à
indústria nacional, atendendo as necessidades nacionais em sensoriamento remoto
e funcionando como um instrumento de política industrial. Desde 2005, existem
propostas do lado chinês para uma extensão da cooperação espacial [Nota
1].
Amazônia-1
Após o CBERS, a pergunta
natural foi sobre o projeto do satélite de observação Amazônia-1, baseado na
Plataforma Multimissão (PMM). Perondi respondeu dando um panorama sobre a PMM e
a sua primeira missão, ressaltando que o projeto da plataforma foi contratado
na indústria em 2001 sem uma linha de base, com uma amplitude grande para
aplicações multimissão. "São quase doze anos de desenvolvimento do
projeto." "Nenhum subsistema tem herança de voo, o que é um desafio
grande", disse.
O Amazônia-1, especificamente,
está em revisão e pode ser lançado em dois anos, informou, revelando ainda que
a forma de contratação gerou certas dificuldades de relacionamento com a
indústria, algo que está em discussão no âmbito de direito administrativo. "O
INPE está mobilizado em definir o cronograma de satélites."
Cubesats e Nanossatélites
Perguntamos ao diretor do INPE
sobre alguns projetos de cubesats e nanossatélites que têm sido
desenvolvidos pelo Instituto. De acordo com ele, são missões ainda
experimentais e em escala reduzida, envolvendo as unidades do Centro Regional
do Nordeste (Conasat) e Centro Regional Sul (NanosatC-BR), com forte objetivo
de aprendizagem. "Estamos aguardando os resultados, e temos que ver o
lado de aplicações também", afirmou.
Satélites Radar, Meteorológico
e Lattes
Perondi enfatizou que a
prioridade do INPE é o CBERS e, em seguida, o Amazônia-1 (PMM). Mas, há também
outros projetos e possibilidades no âmbito espacial. Um deles é o satélite radar,
no passado, quando planejado em parceria com a Alemanha, denominado MAPSAR.
Em discussão desde 2003 e
constante no Programa Espacial desde o PNAE 2005-2014, o diretor afirmou que o
satélite radar teve como alternativa considerada apenas uma configuração com
antena refletora, e não planar, dando indicativo de que sua configuração está
sendo discutida. "A demanda para estas imagens continua existindo, e
uma parceria internacional é possível".
Sobre uma missão meteorológica,
afirmou que esta já consta do PNAE desde 2004 (período 2005-2014), e que é uma
necessidade do País. "[Esta] já deveria estar no horizonte nos próximos
dez anos". Há certa expectativa sobre o arranjo para a sua
viabilização.
Em relação ao satélite Lattes,
de aplicações científicas, Perondi revelou que deve ser repensada. "A
missão é extremamente desafiadora em razão da integração da plataforma e das
cargas úteis." Existe a possibilidade de que o Lattes, surgido a
partir da "fusão" dos projetos de microssatélites EQUARS e MIRAX,
venha a ser dividida em duas plataformas menores. Esta estratégia, aliás,
estaria alinhada à ideia do INPE de retomar as missões de pequenas plataformas,
que poderiam ainda incluir missões com transpônderes para atender o SBCD.
SGDC
A respeito da participação e/ou
ganhos esperados pelo INPE com o Satélite Geoestacionário de Defesa e
Comunicações Estratégicas (SGDC), Perondi foi sucinto, citando que o satélite
atenderá demandas nacionais imediatas (banda larga e comunicações militares), e
que o Instituto pode se beneficiar no futuro por meio do Laboratório de
Integração e Testes (citou o caso de alguns satélites da série Brasilsat, que
tiveram módulos testados no laboratório), e com oportunidades para a formação
de pessoal no exterior.
Perspectivas de Novos
Contratos Para a Indústria?
A entrevista foi encerrada com
uma questão sobre a perspectiva de novos contratos em curto ou médio prazos
para a indústria espacial brasileira, uma vez que os satélites CBERS e o
Amazônia-1 já estão praticamente 100% contratados. O dirigente ressaltou que o
papel do INPE é de executor e não de planejador do Programa Espacial, mas que o
Instituto "olha com preocupação o futuro", respondendo ao
comentário do entrevistador sobre a situação da indústria na atualidade [Nota
2].
O dirigente mencionou que nos
últimos dez anos, o Instituto contratou mais de R$500 milhões com a indústria e
que existem expectativas e novos contratos, sem, no entanto, indicar datas.
Citou, como exemplo, o satélite em cooperação com a Argentina (SABIA-MAR), e
também missões para coletas de dados [Nota 3].
Notas do blog:
Nota 1: entre os dias 4 e 9 de novembro, acontecerá na China a
III Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e
Cooperação (COSBAN), mecanismo de diálogo político de mais alto nível entre
Brasil e China. Sua estrutura inclui onze subcomissões, inclusive uma espacial.
A expectativa é que no encontro, cujo lado brasileiro será chefiado por Michel
Temer, vice-presidente da República, seja aprovado o Plano Decenal de
Cooperação Espacial entre os dois países.
Nota 2: ao questionarmos sobre novos contratos, destacamos os
receios da indústria espacial, que tem passado por certas dificuldades
(algumas, devemos dizer, de sua própria responsabilidade). Apesar da
expectativa de que o SGDC possa de alguma forma beneficiar a indústria local,
tais benefícios não serão imediatos, podem não ter efeitos financeiros diretos
(transferência de tecnologia não necessariamente gera vendas) e serão sentidos
apenas após vários anos. Ressalte-se, aliás, que o contrato para a construção
do primeiro satélite ainda não foi assinado. Especificamente sobre a situação
da indústria local, o blog tem conhecimento de ao menos duas empresas que estão
demitindo pessoal ou prestes a demitir. Ainda, é fato amplamente conhecido no
setor a gravíssima crise financeira por que passa uma das principais indústrias
brasileiras do setor (abordaremos este caso, em detalhes, mais adiante).
Nota 3: de acordo com as informações apuradas pelo blog Panorama
Espacial, há discussões no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação e AEB para a contratação da missão SABIA-MAR, em conjunto com a
Argentina. O modelo analisado envolveria um prime contractor industrial,
no qual a Visiona Tecnologia Espacial, surgiria como mais forte candidata. Em
relação aos satélites para atender o SBCD, é possível que haja a participação
do Comando da Aeronáutica (Ministério da Defesa), e também da Agência Nacional
de Águas (ANA), subordinada ao Ministério do Meio Ambiente.
Fonte: Blog Panorama Espacial - André Mileski - 29/10/2013
Comentário: Primeiramente gostaríamos de parabenizar ao
companheiro André Mileski por essa entrevista. Dito isso, analisando o que
disse o Dr. Perondi, parece-me que a única certeza que o diretor do INPE tem é
que ele não tem certeza de nada. E na verdade não pode ser diferente, afinal o
governo que ele está subordinado não tem o menor compromisso com o programa
espacial do país. Veja o caso do satélite Lattes. Esse satélite foi idealizado há
quase uma década para supostamente facilitar a viabilização de dois projetos de
microssatélites científicos idealizados no final da década de 90, ou seja, os microssatélites
EQUARS e MIRAX, que então passaram a ser cargas
úteis (missão) desse satélite científico Lattes. E agora, pelo visto, volta-se
a configuração inicial. Já o Programa CBERS não há ainda uma definição de sua
continuidade ou não (coisa que evidentemente já deveria ter sido definida), e
existe a crença de que os chineses não tenha interesse em sua continuação, mas caso
isso venha acontecer, será por outros interesses de ordem política, e não pelos
interesses que deveriam motivar um programa como esse, mas enfim, isto é
Brasil. Veja o caso da “III Reunião da Comissão
Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN)”, evento este
onde a decisão da continuação ou não do programa pode ser tomada. A parte
brasileira vai ser liderada por mais uma eminência parda desse governo
desastroso, e muito provavelmente nada de realmente significativo deverá sair
dessa reunião na área espacial, restado mesmo muita conversa fiada e jogo de
cena para mídia e sua grande audiência ignorante no assunto. Já quanto o
Amazônia-1 leitor, esse é uma das maiores novelas do Programa Espacial
Brasileiro. Pouco se fala sobre o mesmo, já que esse satélite está diretamente
ligado à finalização da Plataforma Multi-Missão (PMM), projeto este que ninguém
sabe, ninguém viu, e já fazem mais de dez que foi contratado na industria.
Quanto aos projetos de cubesats e nanosatélites em curso com a participação do
INPE e de outras instituições, me causa preocupação a aparente forma desinteressada
com que o assunto foi tratado pelo diretor do INPE. Caros Dr. Durão e os
envolvidos com esses projetos, abram o olho. SGDC, bom leitor, será que precisa
acrescentar algo mais ao que foi dito pelo próprio diretor do INPE? E finalizando com as perspectivas de novos contratos para a indústria. SABIA-MAR?
Ora, senhor Perondi, com todo respeito que lhe devo, faça-me uma garapa. O Sr.
só pode estar de brincadeira. Lamentável!
É como eu vivo dizendo. Enquanto esse povo diretamente envolvido no agora suposto Programa Espacial Brasileiro, continuar calado, vai ser isso aí ou pior.
ResponderExcluirEu responsabilizo a TODOS desde os presidentes e diretores ao mais humilde auxiliar de serviços gerais, passando por cientistas, técnicos e engenheiros, e também o sindicato da categoria. Falta ATITUDE !!!
Por poucos centavos, uma parcela considerável da população minimamente organizada, se mobilizou e fez com que não um, mas vários governos estaduais voltassem atrás em decisões tidas como definitivas.
Lembrem-se daquela máxima histórica: "Para que o mal prevaleça, basta que os homens de bem nada façam".
Então, se ainda restam homens de bem nessa área, eles não estão fazendo absolutamente nada para mudar esse estado de coisas.
Continuamos esperando desse pessoal apenas uma coisa: ATITUDE !!!