AEB Realiza Entrevista Com Pedro Nehme - Confira
Olá leitor!
Segue abaixo
uma extensa e interessante entrevista dada pelo Pedro Henrique Doria Nehme (Primeiro
Brasileiro Civil a Ir ao Espaço) postada
hoje (03/05) no site da Agência Espacial Brasileira (AEB).
Duda Falcão
Pedro Nehme: Primeiro Brasileiro
Civil a Ir ao Espaço
Pedro Henrique Doria Nehme, 21 anos, ficará para a
história. Será o primeiro brasileiro civil a ir ao espaço. O estudante
demonstra que ainda não percebeu a dimensão do prêmio que ganhou – um voo
suborbital de aproximadamente uma hora que romperá em até três vezes a barreira
do som. Até o momento desta edição, Pedro concedeu 20 entrevistas e participou
de programas de tv. Aluno do oitavo semestre de engenharia elétrica da
Universidade de Brasília (UnB) e estagiário da Agência Espacial Brasileira,
Pedro se diz é muito interessado na área espacial: “desde criança, gosto de
aviões”. Trabalhou no Goddard Space Flight Center,
da Agência Espacial Americana (NASA) e estudou na Catholic
University of America, em Washington D.C. Além de se dedicar a área
espacial, Pedro toca baixo e violão. O estudante gosta de música popular
brasileira e de compositores como Caetano Veloso, Chico Buarque, Nando Reis,
Gilberto Gil.
AEB – Por que decidiu estudar
engenharia elétrica?
Pedro – Meu
pai começou engenharia elétrica, mas não terminou. Ele sempre incentivou, eu e
meu irmão, a ter interesse pela engenharia. Na minha casa, éramos estimulados a
abrir as coisas e ver como elas funcionavam. Por essas razões, decidi fazer o
curso.
AEB – Como surgiu o interesse
pelo espaço?
Pedro – Desde
criança, gosto de aviões. Minha mãe nos dava Lego para brincarmos e eu sempre
preferia os de aviões. Antes da faculdade, não há muito o que fazer na
área. No ensino médio, vemos alguma coisa sobre o assunto, mas nada muito
palpável. Quando entrei para a faculdade, fiquei realmente interessado no
tema. Na metade de 2011, eu fui fazer um curso de inverno no Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE), por um mês. Era sobre pesquisas aeroespaciais e
as aulas tinham como tema as missões espaciais. A última semana do curso era um
breve estágio. Eu fiz no Laboratório de Integração e Testes (LIT), na área de
interferências e compatibilidade eletromagnética. A partir daí, realmente me
interessei pela área.
AEB – Como foi sua
experiência no curso do INPE?
Pedro – O
curso foi sensacional. Alguns palestrantes participaram de missões brasileiras
e outros tinham experiência prática com sistemas. Depois de participar do
curso, percebi que a sociedade não conhece muito esse setor. Antes do curso, eu
não fazia ideia do que era o LIT. O laboratório é sensacional.
AEB – Na faculdade de
engenharia da Universidade de Brasília (UnB), você participa de algum
laboratório ou grupo de pesquisa?
Pedro –
Quando comecei a cursar engenharia, fui conhecer os laboratórios e gostei do de
automação e robótica, que talvez seja um dos poucos laboratórios no
Brasil que desenvolve esse tipo de tecnologia. O laboratório atua em várias
frentes: robótica médica, robótica aérea, robótica móvel, reabilitação, entre
outras. É um espaço grande, que tem parcerias com empresas e onde muitas
pessoas trabalham. Na época (primeiro semestre do curso), havia uma vaga num
projeto de robótica aérea. Desde então, participo do grupo de pesquisa.
AEB – Como conseguiu o
estágio na NASA?
Pedro - Eu já
sabia falar Inglês e sempre quis muito ir aos Estados Unidos (EUA). No final de
2011, lançaram o Programa Ciência Sem Fronteiras, que tinha intercâmbio para os
EUA e eu sempre quis fazer intercâmbio. Então, resolvi me inscrever. Nesse meio
tempo, a professora Duilia de Mello, que é da Universidade Católica da América
em Washington e pesquisadora da NASA, selecionou alguns alunos do programa, por
meio dos currículos, para fazer estágio na NASA. Fui um deles. No total, foram
escolhidos sete brasileiros, três da Universidade de Brasília, um da
Universidade de São Paulo (USP), um da Universidade Cruzeiro do Sul e dois do
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
AEB – Como foi sua
experiência na NASA?
Pedro – A
experiência foi muito boa, aprendi muito. Passei um ano nos Estados Unidos. Eu
não tinha noção de tanto das coisas que aconteciam na NASA. São muitos
projetos. No centro em que eu estagiava, que era o maior de todos, estavam
sendo realizados mais de 200 projetos aeroespaciais, com todas as suas
complicações e especificidades. Nesse tempo, aprendi coisas que talvez nunca
fosse aprender no Brasil. Vale muito a pena você ir para fora, aprender e
depois trazer esse conhecimentos para o Brasil. Considero-me privilegiado por
ter estagiado na NASA.
AEB – Você desenvolveu algum
projeto na NASA?
Pedro - Na NASA, trabalhei no Goddard
Space Flight Center, onde fiz parte do projeto BETTI (Balloon Experimental Twin Telescope for
Infrared Interferometry) – projeto de uma equipe de astrônomos e
engenheiros da NASA, da Universidade de Maryland, e do Instituto de Johns
Hopkins University. Trata-se de uma projeção e construção de um
observatório-balão para estudar os cosmos infravermelhos em detalhes mais
nítidos. Eu e mais quatro estagiários desenvolvemos uma câmera para o projeto.
Na época, ficava pensando em como os pesquisadores tinham coragem de colocar um
material de US$ 30 mil na mão de cinco estagiários. Com o tempo percebi que
eles têm confiança nos estudantes.
AEB – Como você veio parar na
AEB?
Pedro - Em
outubro, assisti a um vídeo no youtube do
gerente do Programa AEB Escola, Eduardo Quintanilha, dando uma palestra no Campus Party. Ele falava sobre o
Programa Espacial Brasileiro e, no final, falou sobre a olimpíada de Cansat,
que ia ser lançada. Achei a palestra interessante e enviei um e-mail para ele,
contando um pouco da minha história e perguntando se eles tinham estágio na
AEB. Quando retornei ao Brasil, ele me entrevistou e comecei o estágio.
AEB – Em que você trabalha na
Agência?
Pedro -
Trabalho no desenvolvimento da Olimpíada de Cansat e de foguetemodelismo,
desenvolvendo software e hardware para o Cansat.
AEB – Como ficou sabendo do
concurso da KLM?
Pedro – Por
um vídeo no Youtube. Antes dos vídeos, passam comerciais e anúncios
promocionais. Então, vi a campanha da KLM. Era um vídeo muito bem feito. Toda a
campanha de divulgação do concurso era bem desenvolvida, principalmente a
interface gráfica. Costumo dizer que resolvi participar em razão disso.
AEB- Você assiste a muitos
vídeos? Você acha que o youtube dissemina conhecimento?
Pedro - Sou
uma pessoa que aprende muito vendo, assistindo aulas e vídeos. Aprendo muito
mais vendo do que lendo. O Youtube está repleto de aulas, principalmente de
universidades de fora. Com o Youtube, não há fronteiras literalmente. A
pessoa pode estar em qualquer lugar do Brasil e assistir aulas das melhores
universidades americanas.
AEB – O que você fez para
adivinhar onde o balão iria cair?
Pedro – Foi
um chute. Eu não tinha nenhuma informação do balão. Mas foi aquele chute
diferente, porque toda a minha experiência contribuiu para que eu acertasse. É
como se fosse uma dona-de-casa fazendo comida. Ela não tem receita das coisas,
mas faz tudo muito bem, porque cozinha há vários anos. Então, a comida “sai
boa”. Como trabalhado há muito tempo na área, tenho mais noção do que um leigo.
AEB- Como você ficou sabendo
do resultado?
Pedro - No
domingo, a KLM mandou e-mail para todos os participantes do concurso,
informando que o resultado sairia no dia seguinte (segunda-feira). Na manhã do
dia seguinte, esqueci-me completamente do concurso. Fui para a defesa de um
mestrado de um amigo sobre a área espacial. Depois, para o laboratório
trabalhar. Foi quando abri meu e-mail e vi a mensagem da KLM avisando que eu
havia ganhado o concurso.
AEB – Qual foi sua reação?
Pedro – No
começo, achei que fosse SPAM, defeito e-mail, porque meu email filtra as
mensagens do dia e essa havia ido parar na minha caixa prioritária da caixa de
entrada. Quando comecei a ler, lembrei-me do concurso. Então, pensei: não é
possível que eu ganhei esse negócio. Para
mim, era extremamente improvável que eu ganhasse. Li o e-mail dez vezes. Foi
uma loucura. Respondi o e-mail, perguntando se era mesmo verdade. Eles
responderam: “você ganhou. Vamos entrar em contato com você o mais rápido
possível, me passe o seu contato”. No dia seguinte, ligaram me dando parabéns.
O pessoal da KLM de São Paulo estava muito surpreendido por ter sido um
brasileiro e me disseram que tinham feito a divulgação para alguns veículos de
comunicação e que eu daria algumas entrevistas. É meio impactante, porque,
atualmente, esse tipo de viagem não é algo comum. Acredito que no futuro
será como comprar uma passagem para São Paulo. Mas, hoje, é esquisito, é
diferente.
AEB – Qual o prêmio que você
ganhou?
Pedro - Fui
premiado com uma vaga na nave Lynch, da empresa Space Expedition Corporation
(SXC). A viagem espacial terá início em Curaçao, no Caribe. O voo será
suborbital (não entra em órbita da Terra) e atingirá uma altura aproximada de
103 quilômetros, cruzando a chamada linha de Kármán. A viagem terá uma hora de
duração – da decolagem à aterrizagem.
Ficarei aproximadamente cinco minutos em ambiente de
microgravidade. Além da viagem ao espaço, ganhei duas passagens aéreas para
Curaçao, no Caribe, de onde sairá a nave, e hospedagem para duas pessoas em um
hotel de luxo.
AEB – Quando é a viagem?
Pedro – Ainda
não há uma data definida, pois a espaçonave ainda está em processo de
certificação e passa por um período de testes. Depende da resposta da
espaçonave a esses testes. A previsão é de que seja no início de 2014.
AEB – Você tem ideia de como
será o voo?
Pedro – Sei
que há um treinamento, que envolve um simulador dessa espaçonave e voos de
caça. Imagino que terei que fazer testes físicos e exames médicos. Daqui até a
viagem, ainda há um tempinho e muitas coisas para acontecer. O período do voo –
uma hora -, será extremamente intenso. A espaçonave subirá e descerá muito
rápido. Vou ultrapassar três vezes a barreira do som e ficarei,
aproximadamente, cinco minutos em ambiente de microgravidade (sensação de
gravidade zero).
AEB – O que você pretende
fazer depois de se formar?
Pedro – Meu
futuro ainda é meio incerto. Pretendo fazer um mestrado na área espacial. Não
sei onde, se no Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar.
Quero trabalhar na área. Gosto de sistemas embarcados – que é fazer e projetar
circuitos para sistemas aeroespaciais.
AEB – Em relação à questão
espacial, como você vê o Brasil a alguns anos?
Pedro –
Consigo ver os lados positivo e negativo de estar aqui e de estar lá fora. Uma
das coisas que eu considero chave é burocracia brasileira, que atrapalha imensamente
o projeto e o engenheiro. Há pessoas que estão lidando com projetos difíceis,
que estão tentando fazer as coisas funcionarem e, ao mesmo, preciso desempenhar
papel de administrador, assinar papelada, se envolver com a parte política. O
engenheiro tem que se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento do seu projeto.
Outro fator negativo são os investimentos na área. Quando comparamos o Brasil
com os EUA, a diferença é absurda. Os recursos dos projetos americanos são
imensos, apesar do corte de gastos nos últimos anos. Penso que se o Brasil
quiser fazer alguma coisa relevante na área e ter projetos ambiciosos, são
necessários mais investimentos e o apoio da sociedade.
AEB – Qual é a lado positivo do Brasil nesse tema?
Pedro – O
lado bom daqui é que o Brasil é um país muito bom de se viver. Nos Estados
Unidos, no inverno, às 16h horas já está tudo escuro. As pessoas ficam
desanimadas, o que acaba atrapalhando o desempenho nos projetos. O Brasil tem
muita gente inteligente e competente querendo desenvolver o setor. Aqui, há
muitas oportunidades para isso. A competição lá fora é muito grande. Há
países que já são muito desenvolvidos na área. Os Estados Unidos são um
exemplo. Quando voltei para dos EUA senti muito, porque o Brasil ainda é um
país muito “cru” nessa área. Falo de coisas básicas, como o uso da internet
para compras. O brasileiro ainda utiliza muito a caneta e o papel e pouco o
computador. Isso tem de mudar o mais rápido possível. As coisas precisam ser
menos burocráticas. Nos Estados Unidos, há muita burocracia do governo, mas é
impressionante como tudo funciona pela internet, porque as pessoas precisam se
dedicar ao trabalho. É com esse pensamento de dedicação que entra em questão o
funcionamento das universidades americanas. Lá, há secretárias para alunos de
doutorado e de mestrados, comida de graça. Tudo é feito para o estudante ter um
ambiente propício para trabalhar e estudar.
Fonte: Agência Espacial Brasileira
(AEB)
Enquanto a nossa agência Espacial, se é que ela merece essa denominação entrevista o ganhador de um concurso que não tem nada a ver com ela nem sequer com o Brasil, vejam um dos pequenos projetos que não tem nada a ver com espaço, que uma agência espacial de verdade anda fazendo: GROVER.
ResponderExcluirE o mesmo se pode dizer de outras "mais pobres", vejam o exemplo da DLR alemã que usando os nossos foguetes conduz experimentos relevantes.
Não me entendam mal, mas é dureza ver os "eventos" que ocorrem na área espacial brasileira, com visitas pra lá e pra cá, viagens internacionais para fechar negócios imprudentes com a Ucrânia e lançar um satélite mal testado e concluído as pressas com a China. Um lançamento de foguete de treinamento aqui outro ali.
Tá tudo errado!
Os projetos em curso por aqui não são na verdade da AEB (talvez só o da ACS tenha alguma coisa a ver, nem sei direito). Os demais, ou são do INPE, ou do DCTA na figura de um daqueles institutos vinculados a ele.
E a AEB, faz o que?
Céus! Tá difícil de aguentar...