Na Rota do Espaço

Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria publicada dia (28/12) no site do “Novo Jornal” de Natal (RN), destacando que professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolve sistema de rastreamento exclusivo para foguetes.

Duda Falcão

Cidades

Na Rota do Espaço

Professor da UFRN desenvolve sistema de rastreamento exclusivo
para foguetes; a tecnologia é única em território nacional e, além
de ser mais econômica, pode alçar natal à posição de destaque
no desenvolvimento de pesquisas aeroespaciais

Nadjara Martins
DO NOVO JORNAL
28 de Dezembro de 2012 - 18:27

Um projeto científico poderá devolver a Natal o posto de capital espacial do Brasil e garantir que a cidade retorne à sua posição de destaque na pesquisa aeroespacial. O professor do Departamento de Engenharia da Computação e Automação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Francisco Chagas Mota, desenvolveu um sistema de rastreamento GPS (Global Positioning, System) para objetos lançados na órbita espacial. O projeto é o primeiro a ser desenvolvido no Brasil. Apesar de seguir o modelo de um GPS comum, que calcula posição e velocidade do objeto no qual está acoplado, o receptor para foguetes substitui as plataformas importadas utilizadas nos projéteis nacionais. A substituição, segundo Mota, trará mais segurança e ainda custará apenas 10% do valor cobrado pela importação da mesma tecnologia.

O projeto é fruto de uma tese de mestrado do professor na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e data dos anos 2000. Ao longo dos últimos 12 anos de pesquisas, o projeto passou a receber aportes do governo federal, através do programa UNIESPAÇO, da Agência Nacional Brasileira, além de também contar com o apoio do Instituto Nacional de Estudos no Espaço (INEspaço), da UFRN, e do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno.

Os investimentos giram em torno de R$ 500 mil, com resultados já visíveis: no dia 10 de dezembro passado, o projeto passou pelo seu quarto teste e tem tudo para ser adotado pelo governo brasileiro no futuro. O GPS foi testado e aprovado no lançamento do foguete VS-30 Orion, na Base de Alcântara, Maranhão. Com nove metros de comprimento e pesando quase duas toneladas, o foguete percorreu uma trajetória de 428 km durante 11 minutos, caindo em seguida no mar. O GPS esteve acoplado ao foguete junto a outros quatro experimentos, que visavam melhorar a segurança no lançamento de foguetes e satélites.

De acordo com Francisco Mota, o receptor de GPS para foguetes funciona como um sistema de rastreamento comum, com o diferencial de ser menor e mais leve (o protótipo mede 14x5x6 cm e pesa 0,5kg), além de ser resistente às pressões atmosféricas. A previsão é que o GPS final chegue a pesar 0,25kg e ainda diminua de tamanho.

“Um foguete pode chegar a uma velocidade de até 5 mil km/h. Os GPS comuns, quando são utilizados, chegam até certo ponto e travam, não funcionam mais. O sistema GPS para foguetes funciona como um minicomputador e já era utilizado pela maioria dos países com tecnologia aeroespacial. A diferença é que agora poderemos poupar boa parte do que era gasto, além de poder utilizar a tecnologia sem dar satisfação a ninguém”, analisou o professor. O GPS comum trava ao atingir uma velocidade de 1.852 km/h e 18.288 metros.

O receptor GPS espacial é dividido em duas partes: a estrutura metálica, que é acoplada no foguete, e o sistema software, controlado através de um computador que fica na base. O modelo foi desenvolvido com base no modelo GPS arctrict, concedido ao pesquisador pela Universidade de Cornell.

A pesquisa e desenvolvimento de tecnologia aeroespacial, na atualidade, ainda estão nas mãos dos EUA e dos países europeus. O GPS espacial, por exemplo, apesar de ser uma tecnologia utilizada em todo o mundo, só é desenvolvido por cinco países, entre eles Alemanha e Estados Unidos. “A tecnologia aeroespacial sempre teve aplicações militares. Até mesmo para importar as peças ficava complicado devido aos acordos internacionais. Os pesquisadores sempre tinham que dar alguma justificativa para o seu uso e, dependendo do que era dito, alguns americanos nem vendiam”, acrescentou o professor.

Para Mota, o desenvolvimento dessa tecnologia poderá colocar Natal novamente na rota das pesquisas aeroespaciais. “É um material importante para a autonomia espacial brasileira. A tecnologia aeroespacial é uma questão estratégica que ninguém quer dividir. Esse é um projeto que terá aplicações militares e o Brasil precisa disso”, considerou o pesquisador.

Os protótipos estão sendo desenvolvidos em São Paulo, com previsão de passarem por testes em foguetes maiores a partir do próximo ano. Sua maior vantagem está na segurança: a rota do foguete passa a ser monitorada através do radar da base, como normalmente é feito, e também através do GPS. “O próprio foguete sabe onde está. Você passa a ter informações duplicadas sobre a localização do foguete, e isso é essencial quando se trabalha com risco”, sublinhou.

Esse sistema de localização é importante também para evitar acidentes aeroespaciais, como a queda de foguetes em aglomerados urbanos. A mudança da base de testes do GPS da Barreira do Inferno para a Base de Alcântara, inclusive, teve relação com segurança.

“A barreira ficava no centro de um aglomerado urbano (Parnamirim), o que não tornava o projeto muito seguro. A mudança para Alcântara se deu principalmente por causa disso”, contou o pesquisador. Essa mudança no local de testes, no entanto, não interfere no legado que o projeto deixa para a pesquisa aeroespacial em Natal.

“Sem dúvida esse projeto vai deixar aqui um interesse por pesquisas na área. Somos pioneiros no desenvolvimento dessa tecnologia. Natal pode voltar a crescer nessa área, mas é preciso ter investimento contínuo por parte do governo federal.”

O QUE HÁ NO CÉU DE NATAL

O projeto do GPS espacial também rendeu frutos acadêmicos: dois engenheiros do Centro Espacial da Barreira do Inferno apresentaram teses de mestrado sobre o assunto. Um dos mestrandos foi o pesquisador Leilson Alves de Albuquerque, engenheiro da computação da Barreira do Inferno há 28 anos. Segundo Albuquerque, o desenvolvimento do receptor GPS brasileiro é uma boa notícia para a indústria aeroespacial brasileira – principalmente com relação ao uso para fins militares.

“Eu posso colocar o GPS em um satélite, em um foguete ou em um míssil. O receptor GPS que se encontra no mercado é uma tecnologia dominada por, no máximo, cinco países e você tem que se submeter a uma série de acordos internacionais. A pesquisa aeroespacial brasileira passa a ter mais autonomia”, comentou o engenheiro.

Apesar da importância do projeto, Albuquerque ressalta que é um erro considerar que Natal esteve fora da rota da pesquisa aeroespacial nos últimos anos. O que houve foi uma oscilação nos investimentos, o que, segundo o engenheiro, aconteceu em todo o país.

O engenheiro defende que a Barreira do Inferno não sofreu nenhum tipo de apagão na pesquisa aeroespacial – apesar das limitações apontadas pelo pesquisador Francisco Mota. Segundo ele, a divisão dos experimentos entre a Barreira e a Base de Alcântara (MA), que será reaberta oficialmente no próximo ano, é uma questão de capacidade.

“A presença da população civil ao redor da Barreira não nos limitou, mas tivemos que aderir a questões de segurança. A base ficou com o lançamento de satélites e foguetes suborbitais, enquanto que Alcântara ficou com os grandes foguetes”, explicou.

Atualmente a Barreira se limita a quatro ou cinco lançamentos por ano, que levam experimentos produzidos pela UFRN ou pela própria base. Segundo Albuquerque, três projetos estão sendo desenvolvidos pela base envolvendo antenas, um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) e trajetografia (otimização do uso do radar para localização dos objetos lançados). Ele preferiu não dar detalhes sobre a pesquisa, mas considerou que “é uma imprecisão dizer que a pesquisa aeroespacial morreu”.

Contudo, assim como o professor Francisco Mota, o engenheiro acredita que falta uma política voltada especificamente para o setor aeroespacial brasileiro. Apesar de ser um setor caro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) lançou uma nota ao governo brasileiro, em julho de 2012, considerando a área um “terreno fértil” para investimentos, uma vez que pode atrair parcerias com países que desenvolvem pesquisas no setor, como Ucrânia e China.

“O programa espacial brasileiro é um programa de Estado e não de governo. É uma área que precisa de investimentos. O Brasil tem seguido exemplos de alguns países mais desenvolvidos na área, mas é preciso fazer investimentos para trazer resultados como o GPS”, analisa.

OBS: Segue abaixo uma reportagem exibida em 29/10/2009 pelo "Jornal do Dia - 1ª Edição" da TV Ponta Negra de Natal (RN), sobre esse projeto do professor Francisco Chagas Mota.



Fonte: Site do “Novo Jornal” de Natal (RN) - http://www.novojornal.jor.br

Comentário: Veja você leitor que com um pouco de boa vontade e trabalho sério existem profissionais que trabalham no Brasil que podem fazer a diferença. Entretanto, não sei de onde o Engenheiro Leilson Alves de Albuquerque tirou a ideia de que o PEB é um programa de Estado. Em momento algum de sua história o PEB foi tratado como programa de Estado, nem mesmo durante a sua melhor época, ou seja, na época dos governos militares. Quanto ao tal Programa UNIESPAÇO, citado na matéria, a AEB não lança uma chamada de proposta desde o "3º Anuncio de Oportunidade (AO)" do programa, lançado que foi em setembro de 2009, e tendo o seu resultado final divulgado dia 08/02/2010, quando então 33 dos 59 projetos inscritos foram aprovados, recebendo na época R$ três milhões para seus idealizadores desenvolverem seus projetos nos dois anos subsequentes. Na época da seleção, consultores internos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e externos – pesquisadores da área aeroespacial - analisaram todos os projetos inscritos levando em consideração sua relevância, competência e capacidade de execução. Os consultores internos analisaram a pertinência do projeto apresentado ao PEB e os externos, o mérito técnico-cientifico dos projetos. Vale lembrar que os “Veículos Espaciais” foi à temática de 17 dos projetos aprovados. Sete foram sobre “Controle Embarcado de Satélites Artificiais” e três sobre “Sensoriamento Remoto”. O tópico do restante foi “Materiais”. As instituições que mais tiveram projetos aprovados na época foram o Instituto Tecnológico Aeronáutico (ITA) e o Instituto de Estudos Avançado (IEAv). Entretanto, apesar da relevância de Programa UNIESPAÇO, desde então nenhum outro AO foi lançado, e tanto os recursos, como a frequência de seu AOs, não satisfazem as necessidades do PEB, fora a falta de informação sobre o andamento dos projetos apoiados pelo Programa, sendo esse GPS Espacial uma exceção. Aproveitamos para agradecer ao leitor Israel Pestana pelo envio dessa matéria.

Comentários

  1. Parabéns Professor Francisco Chagas Mota, você faz a diferença.

    Primeiro porque seu trabalho tem começo meio e fim. Infelizmente uma das pragas culturais na pesquisa e desenvolvimento no Brasil é que nossas dissertações e teses são muitas vezes meras divagações sobre temas aleatórios.

    Assim temos os clássicos “Estimadores ótimos de velocidade para situações não lineares”, meras simulações em Matlab que somente com muita boa vontade, mas muita mesmo, de longe podem ter alguma aplicação pratica.

    Coreanos e chineses entenderam o recado há décadas e formam seus engenheiros para trabalharem em idéias que possam ser industrializáveis esta é a grande diferença do rápido crescimento da industria de tecnologia deles.

    Quando fazemos a mesma coisa no Brasil, temos grandes resultados, ta ai a Embraer e a maravilhosa teimosia de bons professores do ITA há meio século atrás de formar engenheiros que sejam engenheiros e não apenas acadêmicos.

    Não estou dizendo com isto que pesquisa acadêmica não tem valor, longe disto, apenas estou defendendo um melhor equilíbrio entre academia e indústria.

    O segundo ponto elogiável é que este trabalho é sobre áreas onde no Brasil via de regra somos um fiasco. Microeletrônica, sistemas de microondas, processamento digital de sinais.

    Tudo isto forma um receptor GPS e um modelo com especificações para vôo orbital é algo que envolve muita qualidade de engenharia nestes segmentos.

    Aquele VLS de 1997 é emblemático. Um foguete com computador de bordo inglês, sistema inercial russo.

    Precisamos ser mais fortes em microeletrônica e sensores de alto desempenho se quisermos ter uma industria espacial crível, caso contrario seremos montadores de satélites.

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    1. Oi João,

      Mais uma situação em que as nossas ideias batem. As vezes faço alguns comentários que podem dar a entender que tenho algo contra o trabalho acadêmico, quando na realidade o que eu procuro mostrar é que o ideal para uma nação, é que o seu trabalho acadêmico tenha sempre uma vertente prática muito forte.

      O exemplo é histórico. Já durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha "deu a receita", valorizando MUITO os técnicos e engenheiros que materializavam as pesquisas dos seus cientistas. Naquela época, o nível salarial de técnicos, engenheiros e cientistas, estavam muito próximos entre si.

      O mesmo ocorreu na União Soviética (não a nível salarial é claro, mas a nível de valorização da função).

      Podemos dizer que os Senhores Werner Von Braun, Serguei Korolev e Valentin Glushko, os três principais personagens do início da "corrida espacial" eram acadêmicos (sendo que os russos eram mais engenheiros mesmo), que metiam a mão na massa.

      Sabe-se por exemplo, que o grande mérito do Korolev, era ser um excelente gerente de projetos, conseguindo, apesar de todos os problemas que a burocracia e as questões políticas impostas, conseguiu lavar a cabo o projeto do foguete de maior sucesso até hoje visto.

      Mais uma ideia que compartilhamos: um melhor equilíbrio entre academia e indústria. E eu acrescentaria, maior valorização dos técnicos e engenheiros e que estes SEMPRE trabalhem de forma muito integrada com os cientistas, sempre trocando ideias para colocar a teoria na prática da melhor forma.

      Abs.

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  2. Duda,

    Está aparecendo esta informação quando acesso o Blog:

    Aviso: algo está errado aqui!
    brazilianspace.blogspot.com.br inclui conteúdo de spacemeta.com, que é um site que distribui software mal-intencionado. Seu computador pode pegar um vírus se você visitar este site.
    O Google notou que programas mal-intencionados podem ser instalados no seu computador se você prosseguir. Se você já visitou este site no passado ou se você confia neste site, é possível que ele tenha sido invadido recentemente por um hacker. Você não deve proceder e, talvez, deva tentar amanhã ou ir para algum outro site.
    Já informamos spacemeta.com que encontramos malware no site. Para saber mais sobre os problemas encontrados em spacemeta.com, visite a Página de diagnóstico de Navegação segura. do Google.

    Se você entende que visitar este site pode danificar seu computador, proceder de qualquer modo.

    Ajuda a melhorar a detecção de malware enviando dados adicionais ao Google sobre sites nos quais você vê esse aviso. Esses dados serão analisados conforme o Políticas de Privacidade da navegação segura.

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    1. Olá Membro Delegado!

      Eu não sei que lhe dizer, a não ser que se for verdade, já era de se esperar algo assim, principalmente devido as verdades que diariamente são ditas e apresentadas aqui na blog.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    2. Prezados,

      Quanto a isso, "muita calma nessa hora". Recentemente, devido a inúmeros ataques internacionais que se infiltravam em servidores brasileiros, houve uma troca de portas de acesso dos nossos provedores para fora do Brasil.

      O problema no caso, não está no nosso Blog, e sim na página da Spacemeta, que podia estar sendo usada por hackers internacionais. Na dúvida eles devem ter bloqueado o acesso a ela.

      Duda, sugiro que você retire o link para a página da Spacemeta ao menos até que eles resolvam esse problema para evitar qualquer vínculo desse problema com o Blog.

      Abs.

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    3. Olá Marcos!

      Valeu pela sugestão. Agora parece está funcionando melhor.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  3. "Esse é um projeto que terá aplicações militares e o Brasil precisa disso”, como disse o prof. Francisco Mota. Ótimo para o Brasil o fato dessa inovação cortar custos de estrangeiros e ganhar mais independencia, mas pelo texto podemos ver que essa independencia ainda se submete ao sistema americano. Não será dificil saberem que algo se deslocou de Alcântara.

    Uma tecnologia que poderia tornar-se um embrião de algo maior (como a construção de nosso próprio sistema "GPS"), no entanto o recente acordo do governo com os Russos, sobre o Glonass, parece vir para anular essa hipótese. Provavelmente esse envolvimento com os russos está ligado a tal "cooperação e troca de experiencias" na realização dos grandes eventos que tanto o Brasil quanto a Russia darão lugar.

    Não sabia do contexto por detrás dessa AO (Anúncio de Oportunidades) e sempre é bom conhecer um pouco da história. Seria ideal realizarem mais desse tipo de iniciativa, se possível todos os anos, destinando parte dos recursos do PEB nessa área de novas oportunidades. As notícias por si podem passar uma vaga idéia, por isso as notas no final do texto são importantes para nos irem enquadrando com o que realmente aconteceu/acontece.

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  4. Quanto a matéria do artigo, excelente notícia!

    É a valorização das iniciativas independentes, com um mínimo de "apoio oficial". É uma quantia tão irrisória, principalmente se comparada aos descalabros de obras faraônicas bilionárias que temos acompanhado, dando um resultado tão promissor...

    E o Duda, com seu conhecimento da história recente desses projetos, sempre nos dando a informação precisa de como tudo começou. E notem que havia outros projetos, e talvez por algum daqueles acasos, alguma excelente ideia tenha ficado fora dos finalistas.

    Realmente, é notório que o Brasil tem os recursos humanos. O que falta é esse "governo" (em todos os níveis), querer fazer bom uso deles.

    Att.

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