Cooperar é Preciso, Saber Cooperar é Mais Ainda

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo escrito pelo José Monserrat Filho, Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB), e publicada na “Revista Espaço Brasileiro” (Jul – Dez de 2012), destacando que o Brasil precisa da cooperação interacional, mas saber cooperar é ainda mais imprescindível, caso queiramos obter melhores resultados.

Duda Falcão

AEB

Cooperar é Preciso
Saber Cooperar é Mais Ainda

Requisitos: desenvolvimento conjunto, parceiro confiável,
Interesse mutuo e benefícios compartidos


Jose Monserrat Filho
Chefe da Assessoria de
Cooperação Internacional (AEB)

Assinar acordos de cooperação internacional
sem visar a um objetivo concreto não parece decisão
prática nem sábia. Pode ser apenas perda de tempo,
difícil de justificar no mundo objetivo e ágil do século XXI.
É o que mostra a experiência da Agência Espacial Brasileira.
O Presidente da AEB, José Raimundo Coelho, lembra que,
Em quase duas décadas, a agência firmou mais de cem
acordos com diversos países.

Quantos realmente funcionam e dão resultados efetivos? “As parcerias com a China, Alemanha, Estados Unidos, Ucrânia e França tem se mostrado bastante promissoras”, comenta o presidente. Esses são, de fato, os acordos mais ativos. Há outros, claro, com boas perspectivas. É preciso impulsioná-los para se tornarem realmente produtivos e eficazes.

Se a cooperação internacional tornou-se indispensável, em particular no universo espacial, saber cooperar é necessidade inadiável e intransferível. Significa usufruir e aproveitar ao máximo a colaboração com outros países. Exige preparo e empenho.

A boa e genuína cooperação facilita e incrementa os investimentos, divide custos e riscos, aumenta a quantidade de projetos, impulsiona a abertura de novos mercados, dinamiza a indústria e lhe dá sustentabilidade, amplia a segurança e a confiabilidade dos produtos e serviços, resolve problemas regionais e globais. Para a AEB, a cooperação espacial, neste planeta mais globalizado e interdependente que nunca, é muito mais que mera transação comercial; é promover o desenvolvimento conjunto – científico, tecnológico e industrial – com parceiros competentes e confiáveis, baseado no interesse mútuo, no esforço comum e no compartilhamento de benefícios.

Exemplos relevantes – Com a China, a AEB tem parceria estratégica global, graças, entre outros, ao projeto do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), iniciado em 1988, a ser agora ampliado pelo Plano Decenal de Cooperação Espacial, em elaboração, algo inédito na Era Espacial. O CBERS-1 foi lançado em outubro de 1999, o CBERS-2, em outubro de 2003, e o CBERS-2B, em setembro de 2007. O CBERS-3 será lançado em 2013. Ao longo de mais de 20 anos, as equipes do Brasil e da China trabalharam lado a lado, aprendendo e desenvolvendo juntos conhecimentos, processos e soluções. Ainda nos anos 90, os dois países definiram esse programa como parceria estratégica. Em 2012, ele foi elevado a parceria estratégica global, em declaração assinada pela Presidente do Brasil e pelo Vice-Presidente da China, na Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

Com a Ucrânia, em 1999, a AEB firmou o primeiro acordo espacial. Em 2006, criou-se a empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS) para promover lançamentos comerciais, seguros e competitivos, do veículo ucraniano Cyclone-4 a partir do Centro de Alcântara. Em 2011-2012, 10 alunos do Curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade de Brasília (UnB) completaram seu mestrado na Ucrânia e, agora, tratam de integrar o corpo de profissionais do Programa Espacial Brasileiro ou ingressar nas empresas da industria espacial brasileira.

Com a Alemanha, a cooperação existe há 40 anos e com resultado, hoje se têm os projetos do Satélite de Reentrada (SARA) e do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM), criação brasileira. A Agência Espacial Alemã (DLR) adquiriu foguetes de sondagem VSB-30 para lançamentos em sítios europeus – todos realizados com sucesso. O VLM-1, lançador de satélites de pequeno porte, está sendo desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), em parceria com o DLR. A primeira fase inclui a criação do motor S-50, com material composto e 12 toneladas de propelente. Em 2011, AEB, DLR e DCTA adotaram, em comum acordo, programas para levar adiante o trabalho conjunto na construção de foguetes de sondagem para experimentos em microgravidade.

Cooperação intensifica-se – Em 2012, a AEB encontrou-se com embaixadores, representantes de agências espaciais, delegações de inúmeros países e organizações internacionais: Agência Espacial Europeia (ESA), Alemanha, Argentina, Bélgica, Canadá, China, Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (OOSA), Estados Unidos, Federação Internacional de Astronáutica, França, Itália, Japão, México, Namíbia, Polônia, República Tcheca, Rússia, Singapura, Suíça, Turquia, União Europeia e Ucrânia. A AEB também recebeu executivos de empresas de atuação mundial: Dneprotechservice, Fiat-Avio, IHI, Mitsubish, NEC, NetCom, NewSpace Global, Reshetniev, RUAGSpace, Thales e Yuzhnoye SDO.

Em julho de 2012, o presidente da AEB integrou a missão à China organizada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). No país asiático, José Raimundo Coelho visitou o Centro Espacial Chinês, as instalações onde o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS-3) estava sendo montado e participou de reuniões sobre o cronograma de testes e lançamento do CBERS-3. Ele também reuniu-se com autoridades chinesas para tratar sobre o futuro da cooperação sino-brasileira na área de satélites, inclusive o projeto do Plano Decenal.

A seguir, na Ucrânia, o presidente da AEB foi recebido pelo presidente da Agência Espacial Ucraniana, Yuriy Alekseev, e reuniu-se com a diretoria da parte ucraniana da empresa binacional Alcântara Cyclone Space, responsável pelo programa de lançamentos comerciais do Cyclone-4 a partir do Centro de Alcântara.

Em outubro de 2012, o presidente da AEB visitou a Itália, França e Japão. Em Nápoles, Itália, participou do encontro da Academia Internacional de Astronáutica (AIA) e do 63º Congresso Internacional de Astronáutica. No evento, reuniu-se com diretores de várias agências espaciais e empresas do setor. Mais uma vez, ficou evidente a curiosidade e o interesse dessas entidades pelas atividades espaciais brasileiras.

Na AIA, o presidente José Raimundo propôs a criação de um programa de satélites de observação da Terra para os países que não têm atividades mais abrangentes, como voos tripulados e exploração da Lua. Para ele, um sistema universal de observação terrestre pode enfocar os principais problemas que afetam a maioria dos países.

Em Roma e Coleferro, avaliou a possibilidade de parceria na área de lançadores de satélites com empresas e autoridades italianas.

Na França, em Toulouse, conheceu  as instalações da Astrium, produtora de satélites. Em Paris reuniu-se com o embaixador do Brasil, José Maurício Bustani, buscando incrementar a cooperação com a agência espacial e empresas francesas.

No Japão, em Kyoto, participou como convidado do 9º Fórum Anual de Ciência, Tecnologia e Sociedade (STS, sigla em inglês), encontro internacional anual do mais alto nível. Em Tóquio, foi recebido pelo presidente da Agência Espacial do Japão, por ministros e diretores de grandes empresas daquele país.

“As oportunidades de parcerias e trabalhos conjuntos com todos os países que visitei são múltiplas”, salientou o presidente da AEB.

Mais Cooperação – Com a Argentina, a AEB tem um acordo para o desenvolvimento conjunto do satélite oceanográfico Sabiá-Mar, destinado a monitorar o meio ambiente marinho e os recursos hídricos litorâneos. Em reunião técnica realizada em Buenos Aires, em novembro, o projeto ganhou um cronograma de trabalho que deve ser cumprido até meados de 2013. Em marco de 2012, uma delegação argentina visitou o CLA. Também deve visitar o CLA, a convite da AEB, uma comitiva de diretores das principais empresas espaciais argentinas. No Seminário das Nações Unidas sobre Direito Espacial, realizado em Buenos Aires de 5 a 8 de novembro, o Brasil propôs a criação de uma constelação latino-americana de mini satélites, com casa país construindo o seu e integrando um conjunto de países da região. A ideia foi bem recebida pelos participantes do encontro.

Com a Organização de Pesquisas Espaciais da Índia (ISRO), a agência espacial indiana, a AEB está concluindo um acordo para receber dados do novo satélite indiano Resourcesat-2, em sequência aos do Resourcesat-1, que têm sido muito úteis ao Brasil.

Em 2012, a Agência participou da reunião técnica realizada em Bangalore, Índia, sobre o projeto do satélite IBAS, que une esforços conjuntos da Índia, Brasil e África do Sul.

Brasil e França cooperam na área espacial desde os anos 60. Técnicos franceses ajudaram a escolher o local do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Em 2011 e 2012, os dois países trocaram notas renovando o acordo de 1997, que estabelece o serviço de telemedidas e rastreamento prestado pelo Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) aos lançamentos do Centro Espacial Guianês, em Kourou, na Guiana Francesa, agora com três foguetes – Ariane, Vega e Soiuz. AEB e ESA negociam agora novo acordo, mais completo, sobre essa parceria.

Brasil e Rússia têm mais de duas décadas de cooperação espacial. A parceria mais recente e importante é a que prevê cooperação no campo da utilização e desenvolvimento do satélite russo de navegação global por satélite (Glonass).

Brasil e Estados Unidos mantêm importante relacionamento desde os tempos do Sputnik I e do Explorer I, no início da Era Espacial, em 1957. Já executaram numerosos projetos em conjunto e assinaram vários acordos de cooperação. Em abril de 2010, renovaram a cooperação em pesquisa espacial geodésica, com ênfase em GPS (Sistema de Posicionamento Global). Em março de 2011, firmaram a renovação do Acordo-Quadro de 1996 sobre Cooperação Espacial, que agora aguarda a aprovação do Congresso Nacional. Em outubro do mesmo ano, AEB e NASA firmaram acordos para participação do Brasil na Missão de Cooperação de Ozônio e na Missão de Medição de Precipitação Global (GPM).

Em outubro de 2012, a AEN iniciou entendimentos com membros do governo da Namíbia para criar um plano de trabalho destinado a introduzir o país africano nas atividades espaciais.



Fonte: Revista Espaço Brasileiro - Num. 14 – Jul – Dez de 2012 - págs. 08 e 09

Comentário: Rsrsrsrs, humm, o que lhe parece leitor? O debate está aberto.

Comentários

  1. O PEB pra mim que sou um cidadão leigo, parece-me um total fracasso, falta tudo, recursos financeiros, pessoal especializado, do que tenho acompanhado a respeito, nada daquilo que é planejado acaba sendo executado dentro dos prazos estabelecidos, etc.
    Fico imaginando se isto um dia vai mudar.
    Tenho saudades do Brasil da minha adolescência...parece que estávamos melhores quando todos dizem hoje que estávamos piores.

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  2. Uma coisa é certa, trabalho não falta para o PEB, o que faltam são comprimisso, recursos, mais profissionais, visão estratégica de nossos políticos, leis melhores, e metas muito bem definidas. Se não são capazes de cumprir atempadamente os vários projetos, porque se mergulham em outros novos (como esse satélite IBAS)?

    Acabei de ler um artigo que diz que o Brasil nunca será potencia se não conseguir resolver seus problemas internos, e políticos não querem saber em resolver problemas do país, mas aproveitar-se deles para se enriquecerem. O Brasil não parece ter partidos, pois o que está no poder tenta dividir o bolo, e nem se ouve falar em grupos de oposição (cadê a direita desse país?).

    Podem prometer, assinar acordos, dar uma idéia que as coisas funcionam, mas na prática as coisas são bem mais vergonhosas. É preciso mais gente tentar levar este país a sério.

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    1. Meu caro Israel, politicamente falando o Brasil está morto, só temos partidos esquerdistas ou de viés esquerdista, mas a democracia pressupõe o confronto ideológico ( esquerda e direita), no Brasil, não temos partidos conservadores, exceto o DEM, que está em vias de extinção...a revolução que a esquerda está promovendo no Brasil há décadas, está apresentando resultados devastadores, em princípio, assunto político não parece ter algo a ver com o PEB, mas, raciocinando um pouco, veremos que tem muito a ver sim.

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