Missão é Colocar o Brasil em Órbita
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na edição de nº 414
(Nov. e Dez. de 2012) da “Revista Problemas Brasileiros” publicada pelo "Serviço Social do Comércio do Estado de São Paulo (SESCSP)" dando destaque
ao Programa Espacial Brasileiro.
Duda Falcão
REPORTAGEM DE CAPA
Missão é Colocar o Brasil em Órbita
Com ajuda da iniciativa privada, país projeta
novas gerações de foguetes e satélites
EVANILDO DA SILVEIRA
Edição nº 414
Nov e Dez de 2012
Foto: Divulgação
Lançamento do VLS-1 V2 em Alcântara |
Depois de 32
anos de existência, o programa espacial brasileiro passa por reformulações.
Maior integração entre órgãos e instituições, uma nova série de projetos, mais
participação de indústrias e domínio de tecnologias críticas são as principais
características e objetivos do novo Programa Nacional de Atividades Espaciais
(PNAE), para 2011-2020, cujas diretrizes foram aprovadas recentemente pelo
Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira (AEB). Uma das alterações mais
importantes é o aumento da participação da iniciativa privada, tendo sido
criada uma empresa industrial nacional, mista entre governo e setor privado,
chamada Visiona Tecnologia Espacial. Ela será a encarregada de fabricar os
satélites e equipamentos de solo e, para tanto, assinar contratos com outras
indústrias, nacionais ou internacionais.
De acordo
com o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, no cargo desde maio, a
criação da Visiona, fruto da associação da Embraer (51%) com a Telebrás (49%),
esta última ligada ao Ministério das Comunicações, representa um primeiro e
importante passo para maior participação da indústria nacional nos projetos
espaciais. “Com a chegada da Visiona abre-se a oportunidade para agregar esse
novo conceito de empresa integradora ao PNAE”, diz. Além disso, ele esclarece,
“a utilização de todo o potencial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA),
no Maranhão, por meio de foguetes desenvolvidos em programas conduzidos pelo
governo e por iniciativas autônomas puramente comerciais é uma alternativa que
se apresenta promissora”.
A Visiona
vem juntar-se às empresas privadas brasileiras que já atuam no setor,
fornecendo satélites pequenos e suas estruturas e equipamentos de bordo,
incluindo cargas úteis, foguetes de sondagem e veículos lançadores. “Nossa
indústria aeroespacial é, certamente, a maior do hemisfério sul”, assegura o
engenheiro Walter Bartels, diretor presidente da Associação das Indústrias
Aeroespaciais do Brasil (AIAB), que congrega cerca de 50 empresas dos segmentos
aeronáutico, de defesa e espacial. “Temos colaborado, de forma significativa,
para o desenvolvimento do país, seja diretamente, por meio da contribuição
econômica, seja indiretamente, pela transferência de inovações e princípios de
qualidade a outros setores.”
Na opinião
de Bartels, o aumento da presença das companhias locais no PNAE vai
intensificar essa situação. “A participação da indústria nacional na criação de
tecnologias e sistemas espaciais é condição necessária para a efetiva absorção
pelo setor produtivo das inovações e da capacitação promovidas por essas
atividades”, diz. Ele explica que o processo de globalização, cada vez
mais percebido em todo o mundo, demonstra que a agregação de valor aos produtos
fabricados em um país “é fundamental para sua competitividade como nação”.
No plano
institucional, a ideia é reorganizar o Sistema Nacional de Desenvolvimento das
Atividades Espaciais (SINDAE), responsável pela definição das políticas para a
área. A principal novidade seria a criação do Conselho Nacional de Política
Espacial – integrado pelos ministérios da Defesa (MD) e da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTI), além dos demais com projetos na área –, ligado diretamente à
Presidência da República. Hoje, cada pasta cuida de seus projetos e responde à
presidente. Abaixo dos ministérios, a proposta é criar o Conselho Técnico
Científico, em substituição ao Conselho Superior, que faria a ligação entre as
empresas e as universidades e centros de pesquisa.
Pelo novo desenho
do SINDAE, haveria mudanças ainda em relação ao Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), que deixaria de se reportar diretamente ao MCTI e passaria a
se subordinar à AEB. Um novo organograma define também os órgãos encarregados
da execução do PNAE, com a atribuição de tarefas como o gerenciamento de
atividades, a aprovação de planos, cronogramas, custos e gastos, o repasse de
recursos financeiros e o acompanhamento de projetos.
Segundo
Coelho, o que se procura com essas mudanças é construir um sistema integrado de
gestão, para tornar mais dinâmico o PNAE, dando a ele um novo ritmo e
tornando-o mais eficiente. “Nenhum grande problema é resolvido setorialmente”,
diz. “Todos os elementos de um sistema – instituições, pesquisadores, técnicos
e administradores envolvidos numa tarefa comum – têm de trabalhar em conjunto,
trocando informações e colaborando uns com os outros. É assim que se faz
qualquer coisa, principalmente em áreas de grande complexidade científica e
tecnológica, como satélites e foguetes. Essa é a melhor forma de superar os
problemas Nacionais.”
História
Até chegar a
essas mudanças, o PNAE percorreu um longo caminho. O Brasil começou a realizar
pesquisas espaciais no início da década de 1960, mas só passou a ter um
programa estruturado, com recursos próprios, em 1980, com a criação da
Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). O objetivo não era nada modesto:
colocar em órbita satélites brasileiros, com foguetes de construção nacional,
em uma base localizada no país. A meta até hoje não foi alcançada e só foi
atingida, na verdade, por poucas nações. No caso do Brasil, o país já tem dois
centros de lançamento, o CLA e o da Barreira do Inferno (CLBI), no Rio Grande
do Norte, e também constrói satélites. O que falta é um foguete capaz de
levá-los ao espaço.
Não foi por
falta de esforço que deixamos de alcançar esse objetivo. Quando se criou a
MECB, a intenção era testar o primeiro protótipo do Veículo Lançador de
Satélite 1 (VLS-1) em 1987, o que acabou não ocorrendo. O cronograma atrasou
dez anos e a primeira tentativa só foi realizada em 1997. Dois anos depois, em
1999, foi feita a segunda. Em ambas, o VLS explodiu logo após a subida aos
céus. Em 2003, estava programada uma terceira. Entretanto, aconteceu então o
maior acidente já registrado até hoje no PNAE. No dia 22 de agosto, enquanto
era preparado para ser levado ao espaço, o VLS-1 explodiu, destruindo a torre
de lançamento do CLA e matando 21 engenheiros e técnicos do então Centro
Técnico Aeroespacial (CTA), hoje Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronáutica.
Na época, o
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que, até 2006, quando
terminaria seu primeiro mandato, haveria um novo lançamento do VLS-1. A
promessa não só não foi cumprida como sequer a torre, agora chamada de Torre
Móvel de Integração (TMI), seria reerguida até aquela data. “Embora as ações
para sua reconstrução tenham se iniciado um ano após o acidente, as
obras de fato só começaram em 2009, devido a diversos
problemas judiciais, que impediram seu início conforme planejado”,
conta o brigadeiro engenheiro Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel,
diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), do DCTA. “Ela só ficou
pronta em julho de 2012, quando foi realizada a Operação Salina,
que consistiu na integração de um mock-up do VLS-1, para verificação
das interfaces mecânicas e testes de recebimento da nova TMI.”
Mock-up é uma maquete em tamanho natural. O da
cabine de um avião, por exemplo, é construído para que os prováveis ocupantes
possam experimentar suas condições de conforto e ergonomia. No caso do VLS-1,
seu mock-up, totalmente inerte (sem combustível ou satélite a bordo) foi
acoplado à TMI para testar principalmente os sistemas elétricos. A torre, agora
completamente automatizada, é bem melhor que a anterior, destruída no acidente
de 2003. “Hoje, a TMI é uma das plataformas de lançamento mais modernas do
mundo para veículos espaciais do porte do VLS”, garante Coelho. “Grande parte
das modificações em relação ao projeto anterior visou tornar a torre mais
segura.”
Já o VLS-1
real está em fase final de desenvolvimento. Trata-se de um lançador
de pequeno porte, composto por quatro estágios de propulsão, todos movidos a
combustível sólido, com capacidade para transportar cargas de até 250
quilos para órbitas equatoriais de até 700 quilômetros de altitude. Seu próximo
teste está previsto para 2013, em um voo somente com o primeiro e o
segundo estágios ativos. Um outro voo de teste, com todos os estágios, está
previsto para 2014 e, em 2015, ele deverá voar já com um satélite a
bordo. A criação do VLS-1 visa consolidar a tecnologia indispensável para
a colocação em órbita de artefatos importantes para o país.
Projetos
Os
conhecimentos adquiridos também poderão ser usados no Programa de Veículos
Lançadores de Satélites Cruzeiro do Sul, criado em 2005 com planos de
construção de cinco novos foguetes até 2022. A princípio, eles seriam
denominados Alfa, Beta, Gama, Delta e Épsilon – nomes das estrelas principais
da constelação do Cruzeiro do Sul – e teriam capacidade de transportar desde
artefatos pequenos até satélites de grande porte para as mais diversas órbitas
terrestres. Por enquanto, porém, o projeto ainda não saiu do papel. Dentre os
foguetes planejados, os únicos que deverão ser de fato construídos são os dois
primeiros, VLS-Alfa e VLS-Beta, com capacidade de lançamento de 500 e 800
quilos a altitudes de 750 e 800 quilômetros, respectivamente.
Segundo o
brigadeiro Kasemodel, os estudos preliminares para a construção do
VLS-Alfa já foram realizados, mas até agora não foram disponibilizados recursos
para levar o projeto adiante. “O desenvolvimento dos demais veículos da família
Cruzeiro do Sul está sendo rediscutido, considerando que não teria sentido
criar um veículo nacional para competir com o Cyclone-4, que seria o VLS-Delta”,
diz. O militar diz que, “quanto ao VLS-Gama e ao VLS-Épsilon, o problema é a
perspectiva de baixa demanda para esses lançadores no mercado”.
O Cyclone-4,
mencionado por Kasemodel, é um foguete fabricado pela Ucrânia e que será
comercializado com exclusividade pela Alcântara Cyclone Space (ACS).
Trata-se de uma empresa pública binacional de capital brasileiro e ucraniano,
criada em 31 de agosto de 2006 com o objetivo de fazer lançamentos comerciais
de satélites para qualquer país interessado, a partir de Alcântara. Para isso,
a companhia está construindo seu próprio sítio de lançamento no CLA. Quando a
ACS foi fundada, a previsão era de que o voo inaugural fosse feito em 2010, o
que não ocorreu. Agora, a perspectiva é que o primeiro voo de qualificação do
Cyclone-4 seja realizado no final de 2013.
Com 40
metros de comprimento, esse foguete tem capacidade para colocar 5,3 mil quilos
em órbita terrestre baixa (até 500 quilômetros) ou 1,6 mil quilos em uma órbita
de transferência geoestacionária. Esta é elíptica, com seu perigeu (ponto
mais próximo da Terra) a 170 quilômetros de altitude e o apogeu (ponto mais
afastado da Terra) a 35,98 mil quilômetros de altitude. Ela é utilizada para
transferir um satélite de uma órbita baixa terrestre para a geoestacionária –
aquela em que o artefato espacial fica sempre sobre o mesmo ponto da superfície
do planeta.
Em 2015,
deverá ocorrer o primeiro voo do Veículo Lançador de Microssatélites 1 (VLM-1),
que está sendo construído, em parceria, pelo IAE e pela Agência Espacial Alemã
(DLR), com investimentos previstos de R$ 100 milhões. Esse novo foguete terá
capacidade para levar pequenos artefatos, de até 200 quilos, a uma órbita
equatorial de 300 quilômetros de altitude. Como seu custo de produção é
relativamente pequeno, a expectativa é que se abra um mercado significativo
para sua comercialização. Além disso, para atrair possíveis clientes e demandas
diferentes, o VLM-1 será produzido em várias versões, com alterações apenas no
terceiro estágio, mantendo-se inalterados o primeiro e o segundo.
Além dos
foguetes, o Brasil também fabrica os motores que os levam com suas cargas até o
espaço. São três os propulsores mais importantes em produção, todos movidos a
combustível líquido: L5, L15 e L75. O domínio dessa tecnologia é mais difícil,
mas os motores são mais eficientes do que os que usam propelentes sólidos, além
de propiciar maior precisão na hora de colocar um satélite em sua órbita, uma
vez que podem ser ligados ou desligados no espaço quando isso se fizer
necessário. Todos os três estão sendo desenvolvidos pelo IAE, com grande
participação de empresas privadas.
O L5, que
funciona com etanol e oxigênio líquido, é capaz de movimentar até meia
tonelada. Movido com os mesmos combustíveis, o L15 tem força três vezes maior,
podendo carregar 1,5 toneladas. O mais potente, o L75, com capacidade para
deslocar 7,5 toneladas, é alimentado com querosene e oxigênio líquido. O
principal objetivo do desenvolvimento do L5 é capacitar os técnicos e
engenheiros do IAE e as empresas envolvidas para projetar, fabricar e testar
outros motores movidos a combustível líquido, como é o caso do L15 e do L75.
Além disso, ele poderá ser usado para substituir o atual motor do quarto
estágio do VLS-1, que hoje utiliza combustível sólido. As vantagens da troca
são o aumento da capacidade de carga do foguete e a melhoria na precisão da
entrada em órbita. O L75, por sua vez, deverá ser empregado como propulsor do
VLS-Alfa e do VLS-Beta.
Em Órbita
Na área de
construção e operação de satélites, o Brasil está mais avançado. Já em 1993, o
país havia construído sozinho o Satélite de Coleta de Dados 1 (SCD-1),
colocado no espaço pelo foguete americano Pégasus, no dia 9 de fevereiro
daquele ano. Ainda em operação, ele já deu mais de 100 mil voltas ao redor
da Terra, percorrendo uma distância de cerca de 4,5 bilhões de quilômetros, o
que corresponde a quase 6 mil viagens de ida e volta à Lua. Cinco anos
mais tarde, foi lançado o SCD-2. Ambos continuam coletando dados
ambientais, para a previsão do tempo e monitoramento das bacias
hidrográficas, entre outras aplicações, repassados por 300 sensores
instalados no solo.
Em parceria
com a China, num trabalho conjunto iniciado em 1988, foram construídos três
Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS na sigla em inglês
de China-Brazil Earth Resources Satellite), lançados pelo país asiático.
Nenhum está mais funcionando; o CBERS-1 se manteve em operação de outubro de
1999 a agosto de 2003, o CBERS-2 de outubro de 2003 a janeiro de 2009, e o
CBERS-2B de setembro de 2007 a maio de 2010. Agora, um quarto da série, o
CBERS-3, está sendo preparado para voar, o que deve acontecer em dezembro deste
ano ou início de 2013.
Além do
CBERS-3, a nova carteira de projetos da AEB prevê o lançamento de novos
artefatos até 2019. Em 2014, deverá ser colocado em órbita o CBERS-4 e, em
2015, o primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações
Estratégicas (SGDC). “No período compreendido entre 2015 e 2020 – fase de
expansão do PNAE –, investiremos no desenvolvimento de novos projetos de maior
complexidade tecnológica”, revela Coelho. “Serão colocados no espaço três
satélites de monitoramento ambiental do Programa Amazônia: o AMZ-1 e o AMZ-1B
em 2015 e o AMZ-2, além de um meteorológico geoestacionário, em 2018. Em 2019
serão lançados ainda o segundo SGDC e um satélite radar.”
Desses
todos, um dos mais importantes é o SGDC, cujo projeto será coordenado pelo
Comitê Diretor de Projeto (CDP), do qual fazem parte representantes da Telebrás
e de três ministérios: da Defesa, das Comunicações e da Ciência, Tecnologia e
Inovação. A construção dele ficará a cargo da Visiona, que poderá subcontratar
fornecedores estrangeiros e empresas nacionais que atuam na área espacial.
Quando estiver em operação, o SGDC servirá ao Programa Nacional de Banda Larga,
levando a internet a cerca de 1,2 mil municípios brasileiros hoje sem acesso à
rede mundial de computadores.
Ele também
será usado pelo Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS), que
hoje utiliza dois satélites da empresa Star One, controlada por um grupo
mexicano. Essa situação deixa o país sujeito à interrupção das comunicações
militares por motivos comerciais ou geopolíticos, além de pôr em risco
informações confidenciais estratégicas e de segurança.
O novo
satélite nacional vai eliminar essa vulnerabilidade, além de capacitar as
empresas nacionais para a construção do segundo SGDC e de outros artefatos
demandados pelo PNAE.
Soberania e
Desenvolvimento
Comparada às
condições vivenciadas no passado – quando as atividades espaciais do país
sofriam, na maior parte do tempo, com a falta de recursos –, a situação atual,
no aspecto financeiro, é relativamente melhor. Segundo o presidente da AEB, o
orçamento aprovado para o programa espacial em 2012 é da ordem de R$ 443
milhões, pouco mais de 7% de tudo o que foi destinado ao longo das três décadas
do PNAE. “Nesse período, os investimentos governamentais atingiram o total de
R$ 6,152 bilhões [já corrigidos para 2011]”, informa Coelho. “Desse valor,
aproximadamente 40% foram aplicados no desenvolvimento de satélites, 28% em
foguetes e suas respectivas infraestruturas associadas e 25% nos centros de
lançamento”, ele conta.
Para muitas
pessoas, esse dinheiro seria mais bem empregado se fosse usado para resolver
problemas mais urgentes do país, como saúde e educação. Esse é um raciocínio
simplista, que não leva em conta os benefícios imediatos e de longo prazo
proporcionados pelas pesquisas espaciais. São muitos os motivos pelos
quais é importante para um país com as dimensões do Brasil ter um programa
na área: ele atende a demandas concretas da nação e da sociedade. “Podemos
citar a prevenção e o alerta de desastres, a estratégia nacional de defesa, o
monitoramento ambiental e a segurança alimentar e hídrica”, ressalta Coelho.
O
brigadeiro Kasemodel, por sua vez, lembra que os investimentos em
atividades espaciais são considerados estratégicos para o desenvolvimento
soberano do país e fundamentais para incentivar o crescimento econômico e
social da nação. “A extensão de nossas fronteiras terrestre e marítima e as
riquezas minerais tornam inaceitável a dependência de satélites estrangeiros
para os sistemas de comunicações e monitoramento do território nacional”,
justifica o diretor do IAE. “O patrimônio da Amazônia seria, por si só, motivo
relevante para justificar a necessidade de o país investir num programa
espacial. No entanto, há outros fatores motivadores, como as reservas de
petróleo na camada do pré-sal, por exemplo.”
É preciso
levar em consideração, também, que com o tempo as pesquisas nessa área acabarão
contribuindo para o desenvolvimento tecnológico do país. Por isso, segundo
Coelho, criar tecnologia espacial significa avanços em todos os campos de
atividade. “Ela é fundamental para o progresso da própria ciência e das outras
tecnologias”, explica, afirmando que “a complexidade tecnológica da atividade
aeroespacial é a segunda, no ranking da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), perdendo somente para a farmacêutica.” O
resultado são itens de alto valor agregado. Enquanto os produtos agrícolas
valem, em média, US$ 0,20 por quilo e os aeronáuticos US$ 10 mil, os espaciais
chegam a US$ 50 mil.
Às vezes
passa despercebido, mas muitas das tecnologias criadas para a área espacial nos
países ricos geram subprodutos, que acabam sendo usados no dia a dia em todo o
mundo. Entre os exemplos mais notórios estão os chips de circuitos
integrados utilizados em larga escala pela eletrônica moderna, as baterias
solares para relógios e calculadoras, o teflon, o forno de microondas e
as soldas e brocas especiais de dentista. Kasemodel salienta que isso, em certa
medida, também ocorre com o programa espacial brasileiro, que tornou possível
o desenvolvimento de tecnologias estratégicas em diversos segmentos, como
áreas de materiais, química, eletrônica, sistemas de navegação e controle e
sensores.
O brigadeiro
dá alguns exemplos concretos de subprodutos do PNAE, como a química de
propelentes, materiais ablativos (que se queimam para proteger uma outra
estrutura) e adesivos, compósitos e tecnologia de bobinagem de fios e
fitas sintéticas, aços especiais de alta resistência, tubos de alumínio sem
costura e processos e meios industriais de usinagem, soldagem, tratamento
térmico e de conformação de chapas metálicas. “Além disso, há os benefícios
indiretos, como o aumento da capacitação de recursos humanos e a geração de
empregos de alta tecnologia”, destaca Kasemodel. “São avanços
difíceis de quantificar, mas que representam a alavanca do setor intelectual e
produtivo dos países que se dedicam a esse ramo do conhecimento.”
Fonte: Portal da SESCSP - Revista Problemas Brasileiros -
Ed. nº 414 – Nov. e Dez. de 2012
Comentário: Apesar de não concordar com autor de que o
PEB como programa tenha iniciado com a criação da antiga MECB (Missão Espacial
Completa Brasileira) no início da década de 80, a matéria da revista “Problemas
Brasileiros” é muito interessante. Entretanto, devemos analisá-la com frieza em
alguns pontos que não concordamos. Por exemplo: “De acordo com o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, no cargo
desde maio, a criação da Visiona, fruto da associação da Embraer (51%) com a Telebrás (49%), esta última ligada ao Ministério das
Comunicações, representa um primeiro e importante passo para maior participação
da indústria nacional nos projetos espaciais”. Na realidade em nossa visão isso não é inteiramente verdade.
Afinal, essa informação não bate com o discurso do presidente da empresa, Nelson Krahenbuhl Salgado, que não parece está muito
preocupado de onde virá à tecnologia ou se haverá transferência de tecnologia
no processo, e justamente segundo a mídia esse tem sido o tema de discordância
entre os representantes do governo e os da empresa. Portanto vamos com calma
porque não é bem assim. Outra coisa que chamo atenção é quanto ao Satélite Amazônia-1.
Pasmem, segundo a matéria o lançamento do mesmo já foi jogado para 2015 (o que
é realmente lamentável) junto com o Amazônia 1B (o que é inacreditável). Por
sua vez coloca o lançamento do VLM-1 em 2015, o que seria muito bom, mais fora
de qualquer previsão realista, já que o experimento SHEFEX III do DLR alemão (primeira
carga prevista) só estará pronta para voo em 2016 e não existe previsão do IAE
para um voo de qualificação antes dessa missão. Outro ponto a se destacar é
quanto ao “PNAE 2011-2020”.
Sinceramente desconheço a existência desse PNAE e se o mesmo existe, se
esqueceram de divulgá-lo, pois nem mesmo no site da AEB ele foi publicado, fora
o fato de já estamos no final de 2012. Para finalizar, gostaria de perguntar ao
Presidente da AEB o que aconteceu com os projetos dos Satélites Científico
Lattes-1, Sabia-MAR e o do IBSA que não foram citados na matéria? Quanto ao CBERS-3, pela matéria poderá ser lançado em dezembro, mas não acredito nisso. Já o SGDC, note que o lançamento do mesmo já foi para 2015, hehehehe. Volto a insistir, é preciso ter muito cuidado com o que se divulga, já que a respeitabilidade só é alcançada com responsabilidade, e não é por acaso que o PEB é motivo de piada em várias rodas sociais da sociedade mais esclarecida desse país, além de ser completamente desconhecido pela Sociedade Brasileira como um todo. Em nossa opinião essa situação acontece por falta de um trabalho mais profissional e responsável de divulgação do programa e pelo mesmo viver de promessas e não de resultados.
Realmente não sei quais as qualificações do autor da reportagem, mas como estou com pouco tempo e a reportagem é longa, fiquei no primeiro parágrafo: "reformulação" ? Que reformulação? Alguém está vendo alguma reformulação? "integração" ? A mim parece o contrário. Cada vez mais os nossos lançadores se afastam dos nossos satélites. "nova série de projetos" ? Será o Amazônia 1B ? Só pode ser brincadeira. "mais participação de indústrias" ? Quais indústrias ? essas que foram vendidas para multinacionais ?
ResponderExcluir#parei...
excelente entrevista...
ResponderExcluirparabéns ao autor..