Fenômenos Climáticos Extremos e Conectados
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado hoje (06/11) no site da
“Agência FAPESP” destacando os fenômenos climáticos extremos e conectados.
Duda Falcão
Especiais
Fenômenos Climáticos Extremos e Conectados
Por Washington Castilhos,
do Rio de Janeiro
06/11/2012
Agência
FAPESP –
Teleconexões são associações remotas. O que acontece em um lado do planeta pode
ter efeito no outro lado. Um exemplo é o El Niño, fenômeno climático de origem
tropical provocado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico,
produzindo seca no Nordeste brasileiro e chuvas intensas no Sul do Brasil,
entre outros efeitos.
Outro
exemplo de teleconexão remete à origem do El Niño: a causa do fenômeno – o
aquecimento do Pacífico oeste – pode estar relacionada ao aquecimento do Oceano
Índico.
Segundo José
Marengo, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a identificação de teleconexões e
a análise de suas influências na circulação atmosférica podem ser úteis para a
compreensão da ocorrência de eventos anômalos em várias partes do mundo.
“Teleconexões
estão associadas a causas naturais e não à influência antrópica. Em uma fase de
tempo de 100 anos, podem ser observados diferentes padrões de oscilação, com
efeitos sobre o clima de uma determinada região, como o El Niño, a Oscilação
Decanal do Pacífico e a Oscilação do Atlântico Norte. Estamos vivendo, por exemplo,
um período mais frio do Oceano Pacífico, com o Atlântico desempenhando um papel
mais importante”, disse Marengo, que é membro do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no Simpósio Inter-relações Oceano-Continente
no Cenário das Mudanças Globais, realizado pela Academia Brasileira de Ciências
(ABC) em outubro.
Estudos
recentes mostram que o El Niño tem diferentes facetas. Ao analisar os fenômenos
ocorridos entre 1900 e 2012, o grupo liderado por Edmo Campos, professor do
Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo observou 14 eventos
mais secos e 14 mais molhados.
“A
explicação para isso vem do Atlântico Sul, que tem papel determinante para
saber se o El Niño será ‘seco’ ou ‘molhado’. No Atlântico ocorre uma série de
fenômenos importantes para o clima global. O El Niño não depende do Atlântico,
mas, a partir das relações entre este e o Oceano Pacífico, seus impactos serão
diferentes”, disse Campos, que coordena projetos de pesquisa financiados pela
FAPESP, como o “Impacto do Atlântico Sul na célula de circulação meridional e no clima”.
De acordo
com Campos, observações e modelos indicam que variações na célula de
revolvimento meridional (em inglês Meridional Overturning Cell, MOC) estão
fortemente relacionadas a importantes mudanças climáticas. Até o momento, a
maior parte das observações tem se concentrado no Atlântico Norte.
“Entretanto,
estudos indicam que o Atlântico Sul não é um mero condutor passivo de massas de
água formadas em outras regiões e que mudanças no fluxo de retorno da MOC no
Atlântico Sul poderiam impactar significativamente o clima regional e global”,
disse Campos à Agência FAPESP.
“Dessa
forma, uma MOC enfraquecida resulta em um Atlântico Sul mais quente, o que pode
implicar mais chuva no Nordeste brasileiro. O El Niño passou a ter um papel
mais passivo, enquanto o Oceano Atlântico tem hoje um papel mais ativo”,
destacou.
Eventos Extremos
Björn
Kjerfve, presidente da World Maritime University (WMU), na Suécia, ressalta que
os oceanos têm papel preponderante em qualquer cenário de mudança climática.
“Os oceanos são reguladores do clima do planeta. Se a temperatura média da
Terra aumentar em 1 grau, uma determinada quantidade de gelo vai derreter”,
disse Kjerfve no simpósio.
O
aquecimento do Atlântico Sul resultou no furacão Catarina, que atingiu a região
sul do Brasil em março de 2004. O aquecimento do Atlântico Norte levou à
formação do Sandy, que atingiu a costa leste dos Estados Unidos há poucos dias.
“Furacões têm uma relação próxima à temperatura do mar. Eles só ocorrem se a
temperatura da superfície do oceano estiver acima de 26º graus. O Catarina
aconteceu porque de alguma forma a temperatura da água estava acima da média”,
disse Campos.
Ao persistir
a tendência do aquecimento das águas do Atlântico Sul, o Brasil poderá ver a
passagem de novos furacões. “Na média global, a quantidade de chuva aumentou e
a temperatura do planeta também, mas não sabemos se isso criará condições
favoráveis para a ocorrência desses eventos”, disse Campos, lembrando que os
relatórios do IPCC não apontam para uma resposta definitiva sobre a ocorrência
de eventos extremos, como os furacões.
O inverno
quente e início de primavera frio experimentados pelo Brasil em 2012 podem
significar um ajuste natural. “Estamos saindo de um período seco. Isso é
atribuído ao aquecimento global, que tem causas naturais e antrópicas. O ser
humano amplifica o aquecimento. Porém, não se pode atribuir essas anomalias
exclusivamente à ação antrópica”, disse Campos, que coordena o Projeto Pirata, programa de cooperação entre Brasil, França
e Estados Unidos criado em 1995 para observar o Oceano Atlântico.
“Sabemos
muito mais do Pacífico do que do Atlântico. A conexão mais importante entre o
oceano e a nossa costa é a região tropical, por isso é importante monitorar a
região de bifurcação com o Sul equatorial. O pré-sal, por exemplo, será afetado
por fenômenos que ocorrem muito distante dali”, disse o professor do IO-USP.
“Em termos
de ciência oceanográfica, ainda não avançamos muito. Mas o primeiro país a
sofrer alterações diretas em função das variações do Atlântico Sul será o
Brasil. Estamos conectados com o Atlântico, por isso o país precisa ser a
referência dos estudos sobre o Atlântico Sul”, disse Campos.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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