Passo a Passo o Cronograma de Lançamento do CBERS-3

Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria publicada na Revista Espaço Brasileiro (Jan - Jun de 2012), relatando passo a passo a história do desenvolvimento e o cronograma até o lançamento do CBERS-3 em novembro desse ano.

Duda Falcão

CAPA

O Complicado Caminho para o Espaço
CBERS-3: Passo a Passo Até
o Lançamento em Novembro

3, 2, 1... e lá se vai o foguete, com a missão
de pôr em órbita um ou mais satélites.
Quem não é especialista ou fanático pelo
espaço talvez não entenda o quanto é duro
desenvolver e testar um satélite até deixá-lo
no ponto para ganhar o céu.


Cada satélite tem particularidades próprias. E tudo precisa ser testado antes e não depois do lançamento. Aqui em baixo, ele pode ser corrigido. Se der problema lá em cima, os milhões gastos na sua criação e construção podem virar fumaça. Daí que o desenvolvimento dos satélites e dos outros sistemas espaciais é como trabalho de ourivesaria: delicado, minucioso, preciso. Pode levar anos.

O novo Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres – CBERS-3 – começou a ser criado em 2003. Hoje, tem data marcadíssima para ser lançado: novembro próximo. A responsabilidade do Brasil é maior do que antes. Pela primeira vez, metade dos subsistemas são produzidos pela indústria brasileira.

Um dos responsáveis pela criação e desenvolvimento do CBERS-3 é o Jânio Kono, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com larga folha de excelentes serviços prestados ao Programa Espacial Brasileiro.

Jânio Kono revela aqui, para os leitores da Revista Espaço Brasileiro, toda a trajetória do projeto, desde a prancheta, onde era apenas um monte de papéis, até o esperado lançamento, quando tem toda a chance de virar mais um avanço da cooperação espacial Brasil-China – iniciada ainda nos anos 80, como esforço pioneiro de dois países então em desenvolvimento.

O Desenvolvimento

“Esse ciclo costuma ter a duração de vários anos e visa depurar os problemas de projeto e fabricação para garantir que o satélite desempenhe perfeitamente sua missão em órbita, enfrentando o ambiente espacial extremamente hostil, ao longo de todo seu período projetado de vida útil. O CBERS-3 deve durar três anos”, explica Jânio Kono.

A indústria brasileira desenvolveu para o CBERS-3 todos estes subsistemas: Estrutura, Potência (que inclui os painéis solares), Telecomunicações de Serviço (TT&C), Câmera MUX, Câmera WFI, Gravador de Bordo (DDR), Transmissor de Dados (MWT), Coleta de Dados (DCS) e equipamentos do subsistema OBDH (CTU e RTUs).

Desde que chegou à China, o CBERS-3 já passou por nova bateria de exames e testes: análise de viabilidade, projeto preliminar, projeto detalhado, qualificação de equipamentos do satélite e produção do modelo de voo dos equipamentos dos seus subsistemas.

Integração do Sistema (AIT) Campanha de Validação – Atualmente, o CBERS-3 está na fase de testes denominada AIT. Ela tem como objetivo montar, integrar e testar o modelo de voo do satélite para que seja possível identificar e corrigir problemas. Este procedimento irá demonstrar o seu funcionamento em condições ambientais que simulam aquelas que o satélite encontrará no lançamento e em órbita.

Testes Elétricos – Os testes elétricos são realizados com o satélite passando por etapas de montagem. Inicialmente, os módulos de serviço e carga útil do satélite estão separados e ao longo do trabalho são integrados e testados, progressivamente, o subsistema de potência, as telemetrias e telecomandos e as interfaces entre subsistemas.

Na sequência, o satélite continua com os módulos separados e são instalados vários simuladores que injetam sinais nos sensores e câmeras. Neste estado são realizados os testes funcionais completos de subsistemas e sistemas do satélite, assim como testes de interface com os segmentos solo/aplicação. Em um terceiro momento, os módulos são acoplados e são realizados os testes funcionais, com comunicação entre o satélite e o sistema de testes (EGSE) através de cabos e via antenas RF. Durante esta fase, também serão realizados testes de simulação de voo, onde é avaliada a sequência de eventos que ocorrem durante o lançamento e as primeiras órbitas após a injeção do satélite.


Na última etapa desta fase, o satélite estará em configuração de voo, com os painéis fechados. Nesse desenho são executados os testes elétricos finais, antes do transporte do satélite para o Centro Espacial. Os testes elétricos do satélite serão concluídos na segunda quinzena de maio.

No Centro Espacial serão realizados os testes ambientais utilizando-se da câmara anecoica, câmara acústica e câmara termo-vácuo.

Câmara anecoica: realizados os testes para verificar a compatibilidade eletromagnética (EMC) entre os equipamentos do satélite e entre o satélite e o veículo lançador. Com equipamentos de suporte mecânico, o satélite será manipulado para a realização de medidas de propriedade de massa. Serão executadas medidas de massa, centro de massa e momento de inércia. Nessa etapa, caso haja a necessidade, são colocadas massas de balanceamento para garantir a compatibilidade com o lançador e com o controle de atitude. Em seguida serão medidos os alinhamentos e é feita a instalação dos painéis solares. Com o satélite na configuração de lançamento, ele passa por testes de vibração nos três eixos para checar a robustez mecânica do satélite e de seus subsistemas e a compatibilidade dinâmica com o lançador.

Câmara acústica: em seguida, o satélite passa por testes em câmara acústica onde será exposto a níveis sonoros semelhantes ao que vai sofrer durante o lançamento.

Após o teste acústico são realizados um teste de separação satélite-lançador e teste de abertura dos painéis solares. Em seguida, são retirados os painéis solares e é realizada a verificação dos alinhamentos. Durante toda esta etapa são realizados testes elétricos funcionais e testes ambientais, antes da passagem para a etapa seguinte.

Câmara termo-vácuo: Nesta câmara são realizados dois tipos de teste: Testes de balanço térmico (TBT) e o Teste de ciclagem vácuo (TCT).

* Teste de balanço térmico (TBT) – o objetivo principal é checar se o projeto térmico está funcionando de acordo o projeto térmico e, também, ajustar os modelos matemáticos térmicos que serão utilizados mais tarde para prever as temperaturas em várias condições orbitais.

* Teste de ciclagem vácuo (TCT) – checar o funcionamento elétrico de todo o satélite no vácuo, em temperatura lata e baixa.

Teste de balanço magnético: garantir que o momento magnético está dentro dos limites aceitáveis e que os torques devido à interação com o campo magnético terrestre, estão dentro de limites aceitáveis.

Teste sistêmico de longa duração: 100h contínuas – em modulo de simulação de voo – de modo a que eventuais problemas apareçam. É sabido que equipamentos eletrônicos em geral têm taxa de falha maior no início e final de vida.

Revisão Final de Projeto (FDR): verificar se o satélite está em condições para ser enviado para a base. A FDR está prevista para ocorrer em meados de setembro. A chegada do satélite na base de lançamento Taiyuan Satellite Launch Center (TSLC), localizada a 800km de Beijing, está prevista para ocorrer ao final de setembro.


No TSLC é realizada a Campanha de lançamento, conforme mostrado no quadro acima.

Ao final destas atividades, é realizada a Revisão de aptidão ao Voo (FRR) para autorizar o lançamento.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 13 – Jan à Jun de 2012 - págs. 16 e 17

Comentário: Pois é leitor, esse é o cronograma para o CBERS-3. Realmente muito esclarecedor e a Revista Espaço Brasileiro está de parabéns pela matéria. Gostaríamos de agradecer a revista pela iniciativa e ao pesquisador Jânio Kono pela paciência demostrada na explicação passo a passo do que já foi e ainda será feito até o lançamento desse satélite em novembro. Finalmente se aproxima o final dessa novela iniciada em 2003.

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