O Satélite Geo, o INPE e a Visiona

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo publicado no “Jornal do SindCT” de junho de 2012, editado pelo “Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de C&T (SindCT)” analisando a não participação do INPE no projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB).

Duda Falcão

O Satélite Geo, o INPE e a Visiona

Por Gino Genaro (*)
Jornal do SindCT

Foi assinado no último dia 29 de maio o acordo para criação da Visiona Tecnologia Espacial S.A., joint-venture entre a Embraer (51%) e a estatal Telebrás (49%). A nova empresa será responsável, de imediato, pela contratação do projeto e fabricação do satélite geoestacionário de telecomunicação, batizado de Br1Sat, a ser encomendado pelo Governo Federal e orçado em R$720 milhões.

O que chama a atenção na estratégia adotada pelo governo para a fabricação deste satélite é a decisão de se jogar toda a responsabilidade do projeto nas mãos de uma empresa privada especializada na montagem de aviões (Embraer), e da Telebrás (empresa estatal usuária do satélite a ser fabricado), deixando de fora do projeto o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão estatal com mais de 50 anos de experiência na especificação, projeto, fabricação e teste dos satélites já produzidos no País.

O argumento do governo para a exclusão do INPE deste projeto é o de que o Brasil precisaria lançar este satélite em um espaço de tempo muito curto (final de 2014), tempo dado ao País para que ocupe o espaço que lhe é reservado na órbita geoestacionária (região do espaço localizada na altura da linha do Equador a cerca de 36 mil quilômetros de altitude).

Como o INPE não possui o domínio da tecnologia associada à fabricação de um satélite desta complexidade, a alternativa adotada pelo governo foi à criação da nova empresa (Visiona), para assumir, com o apoio da PUC-Rio, a responsabilidade pela especificação da missão do satélite, bem como pela contratação de seu projeto e fabricação junto a empresas no exterior.

Além disso, a participação do INPE em futuros projetos também não está garantida. O presidente da Visiona, eng.º Nelson Salgado, afirmou que “a participação do INPE nos projetos futuros dependerá do risco de cada. Para Raupp o atraso é causa de órgãos públicos Há ainda outro aspecto desta estratégia a ser criticada.

O ministro Marco Antonio Raupp, da Ciência e Tecnologia, bem como seu amigo e presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho, afirmam - com certa razão-que o Programa Espacial Brasileiro (PEB) padece de atrasos crônicos nos seus programas de satélites, debitando tal atraso, entretanto, ao fato destes programas serem tocados por órgãos públicos, como o INPE, e por contarem com pequena participação da iniciativa privada, diferentemente do que ocorre nos programas espaciais mais avançados, como o da agência espacial americana (NASA).

Ora, tal afirmação não condiz com a realidade dos fatos. A participação da indústria nacional nos programas de satélites do País vem crescendo ano após ano, a ponto de praticamente 100% de todo o projeto e fabricação do satélite Amazonia-1, bem como da parte brasileira do satélite que o Brasil desenvolve com a China (CBERS), estarem sob responsabilidade de empresas privadas. Nem por isso, tais programas deixaram de amargar sérios atrasos em seus cronogramas. Portanto, definitivamente, a iniciativa privada não se constitui a panaceia para os males que assolam o PEB. É claro que a indústria privada nacional pode e deve contribuir para a execução do PEB, cabendo ao INPE, como parte de sua missão, transferir a estas empresas não apenas novas tecnologias, como parte dos contratos da área espacial.

A questão que se coloca é se o governo pretende continuar a utilizar o INPE como espaço de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias espaciais ou se pretende repassar apenas para a indústria privada tal atribuição.

A primeira hipótese exigiria um investimento muito maior em termos de recursos humanos e financeiros.

(*) Gino Genaro é tecnologista da área de controle térmico de satélites do INPE e secretário de Formação Sindical do SindCT.


Fonte: Jornal do SindCT - Junho de 2012.

Comentário: Gostaríamos de agradecer ao leitor paulista José Ildefonso pelo envio desse artigo.

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