Brasil Constrói seu Primeiro Satélite Geoestacionário

Olá leitor!

Segue abaixo uma interessante matéria publicada na Revista Espaço Brasileiro (Jan - Jun de 2012), dando destaque ao projeto do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB).

Duda Falcão

INDÚSTRIA

Brasil Constrói seu Primeiro
Satélite Geoestacionário

Parceria público-privada lidera a construção
do 1° satélite geoestacionário brasileiro de
comunicação, que servirá ao Plano Nacional
de Banda Larga e ao Ministério da Defesa.


A nova aliança – Formada pela empresa privada Embraer, com 51% das ações, e pela empresa mista Telebrás, do Ministério das Comunicações, com 49%, ela tem o apoio técnico da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

A nova empresa chama-se Visiona Tecnologias Espaciais S/A, e tem com seu primeiro presidente Nelson Krahenbuhl Salgado, indicado pela Embraer.

O projeto, gerido pela nova empresa nacional, beneficiará a indústria espacial brasileira com ganhos tecnológicos e o desenvolvimento de elementos importantes do sistema.

A empresa subcontratará, nos mercados internacional e nacional, as partes constituintes do sistema, tanto do segmento espacial quanto do segmento de solo. Ela, também, contratará os serviços de lançamento do satélite.

O novo satélite deve orbitar em 2014. Utilizará a banda Ka para levar banda larga a mais de 1200 municípios brasileiros, hoje sem acesso à internet. E atuará também na banda X para conduzir as comunicações estratégicas das Forças Armadas e do próprio governo brasileiro.

As necessidades estratégicas – O Ministério da Defesa e as Forças Armadas contam, hoje, com o Sistema de Comunicações Militares por Satélite (SISCOMIS), concebido nos anos 80 e em operação desde 1994. O subsistema de banda X do SISCOMIS começou a funcionar no ano de 2000, com nove terminais e uma antena central do sistema, instalada em Brasília.

A faixa de frequências da banda X, situada entre 8GHz e 12GHz, destina-se ao uso militar em, praticamente, todos os países do mundo, inclusive no Brasil. A banda X, sendo de uso militar, tem a vantagem de não precisar de coordenação para cada ativação de terminal.

Hoje o SISCOMIS utiliza os satélites C1 e C2 da empresa Star One, controlada por um grupo mexicano. Essa situação torna o Brasil vulnerável a interrupções dos serviços de comunicação por motivos comerciais ou geopolíticos. É vulnerável, também, à perda do sigilo que as comunicações estratégicas devem naturalmente preservar.

Como são as bandas Ka e X? – A principal da banda Ka é a sua largura, de 2,5 GHz contínuo, no enlace que desce até o usuário (17,7 a 20,2 GHz). Ela é alocada pela União Internacional das Telecomunicações (ITU), organização intergovernamental, que coordena a distribuição de posições orbitais e respectivas frequências, e também pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL).

A largura da banda é vital para os serviços de alta velocidade. A faixa alocada para satélites em banda Ku, por exemplo, é de apenas de 500 Mnz (11,7 - 12,2GHz) no link de descida. A segmentação da área de cobertura em feixes também aumenta a capacidade do satélite. Isso permite a reutilização de frequências e maior ganho das antenas em cada feixe.


O novo satélite brasileiro será acessado diretamente por provedores de serviços de internet (ISP), que deverão por sua vez, atender aos usuários individuais, obedecendo às diretrizes e aos custos fixados pelo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

O PNBL tem meta estratégica: oferecer comunicações rápidas e eficientes, a preços acessíveis, a todos os brasileiros. Isso promove a inclusão digital e social. E garante a presença do Estado e seus benefícios em todo país, conectado com os serviços de Governo Eletrônico.

Quem administra o projeto? – O Comitê Diretor de Projeto (CDP) é seu mais lato nível decisório. Ele aprova os planos, orçamentos, cronogramas. Seus membros representam os principais interessados e clientes do projeto, isto é, três Ministérios: das Comunicações, da Defesa e da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ao Comitê Diretor reporta-se o Escritório de Projeto (EP), composto por órgãos técnicos do governo: Agência Espacial Brasileira (AEB), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ministérios da Defesa e das Comunicações e Telebrás. O Escritório de Projeto prepara a documentação técnica do projeto e acompanha o seu cumprimento, nas áreas administrativa e técnica, mantendo permanente contato com as equipes técnicas da nova empresa.

Áreas de competência do consórcio – A nova empresa está comprometida a dominar know-how, conhecimentos e tecnologias, sobretudo nas seguintes áreas:

* Projeto dos elementos do sistema: satélite (plataforma e carga útil de comunicações) e segmento solo;

* Gerenciamento de projetos complexos;

* Garantia da qualidade, gerenciamento de configuração e analises de risco;

* Análise de missão (órbita, atitude, lançamento);

* Engenharia de Sistemas Espaciais;

* Desenvolvimento de simuladores de alta fidelidade;

* Integração e testes de equipamentos, subsistemas e sistemas completos;

* Suporte ao lançamento e primeiras órbitas; e

* Operação.

Engenheiros e técnicos residentes deverão permanecer nas instalações de cada empresa fornecedora, acompanhando as revisões do projeto, testes, discussões e análises, assegurando que o contrato seja cumprido dentro do prazo e dos custos previstos.

Dominar tecnologias críticas – Caberá à AEB, ao INPE e à nova empresa selecionar as tecnologias críticas e estratégicas que o Brasil precisa dominar. Tais tecnologias serão desenvolvidas – com financiamento da AEB e da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) – por companhias da indústria espacial – futuros fornecedores de equipamentos, partes, materiais e processos da nova empresa.

A estratégia de capacitação e absorção tecnológica, baseada no trabalho conjunto entre a nova empresa e os fornecedores estrangeiros, bem como no desenvolvimento tecnológico realizado pelas empresas da indústria espacial local, permitirá que o segundo satélite de comunicações e outros satélites do Programa Espacial Brasileiro sejam também desenvolvidos e integrados pela nova empresa e pela cadeia produtiva espacial nacional, com apoio e participação do INPE e de seu Laboratório de Integração e Testes (LIT).

Modelo para outros projetos – A gestão multiministerial, com participação de empresa privada industrial como prime-contractor (contratante principal), adotada para construção do primeiro satélite geoestacionário brasileiro, servirá de modelo para outros projetos como, por exemplo, o do satélite meteorológico.

As empresas integradoras fortalecerão as cadeias produtivas por meio de subcontratos com empresas de pequeno e médio porte, além de incentivar o surgimento de novos fornecedores e atrair parceiros de outras áreas industriais. Essas empresas virão, ainda, preservar e usar as competências e infraestruturas disponíveis em órgãos governamentais, como o INPE e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), para agregar valor e qualidade aos contratos comerciais.

Com esta nova dinâmica, espera-se que o Brasil adquira independência tecnológica, algo fundamental para o setor espacial.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 13 - Jan à Jun de 2012 - págs. 24 e 25

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