Espaço é Vital para o Desenvolvimento Sustentável

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo escrito por José Monserrat Filho e publicado na Revista Espaço Brasileiro (Jan - Jun de 2012), destacando o espaço é vital para o Desenvolvimento Sustentável.

Duda Falcão

RIO+20

Espaço é Vital para o
Desenvolvimento Sustentável

É a segunda vez em 20 anos que a
Cúpula da Terra das Nações Unidas se
reúne no Rio de Janeiro. Para Ignacy
Sachs, o brasileiríssimo cientista social
polaco-francês, isso é “uma homenagem ao
papel de liderança exercido pelo Brasil na
busca de estratégias de desenvolvimento
socialmente includentes e ambientalmente
saudáveis, tanto em âmbito nacional como global”¹

José Monserrat Filho
Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional (AEB)



A Conferência Rio+20 sobre desenvolvimento sustentável é herdeira direta das Conferências de Estocolmo, em 1972, e do Rio, em 1992, e de Johanesburgo, em 2002. Nesta trajetória, evolui-se de uma concepção socioeconômica bidimensional para uma noção tridimensional de eco-sócio-economia, comparável em certo sentido à passagem da geometria plana para a espacial, como bem salienta o mesmo Ignacy Sachs.

Os Desafios do Nosso Tempo

Vale também o modo como Ignacy descreve os desafios que enfrentamos hoje:

“A humanidade encontra-se numa encruzilhada. Se o aquecimento decorrente de causas antropogênicas )provocadas pela ação humana) não for contido a tempo, nossos descendentes poderão enfrentar mudanças climáticas deletérias, ou mesmo catastróficas, que ameaçarão a própria sobrevivência da espécie – sem falar na probabilidade de guerras e terríveis conflitos sociais e políticos. Por sua vez, por mais prementes que sejam, as preocupações ecológicas não devem ser aceitas como justificativa para adiar a resolução de imperativos sociais urgentes. A economia verde só faz sentido se for uma economia voltada para o bem-estar da sociedade em geral. As inevitáveis concessões que terão de ser feitas entre objetivos ambientais e metas sociais não serão ditadas pela velha Mão invisível de Adam Smith, pois o livro jogo das forças de mercado é, por natureza, míope e insensível à dimensão social... não podemos mais contar com a Mão invisível nem confiar no mito dos mercados autoreguladores. Se quisermos adotar estratégias de longo prazo que levem em conta o bem-estar de todos os atuais e futuros companheiros de viagem humanos... na espaçonave Terra, temos que nos voltar para a Mão visível e seus cinco dedos: um contrato social renovado, planejamento democrático de longo prazo, segurança alimentar, segurança energética (os dois pilares do desenvolvimento includente e sustentável) e a cooperação internacional”.

Ou seja, a mão humana, que antes atuava sobre a Terra sem pensar nos efeitos de suas ações, está agora chamada a planejar a sua recuperação e novo destino, ciente da “crescente responsabilidade humana na evolução das condições de vida na espaçonave Terra – não apenas para a humanidade, mas também para as demais espécies vivas”, pois, “somos a única espécie capaz de imaginar e antever futuros alternativos”, ainda nas palavras sensatas e sensíveis de Ignacy. Sem um planejamento nacional e global, amplo, profundo e democrático, que estimule como nunca o conhecimento e a criatividade, dificilmente atingiremos a rica variedade de frutos do desenvolvimento sustentável.

Hoje Não Se Vive Sem Espaço

O objetivo da Rio+20 – diz a Declaração do Comitê das nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço Exterior (COPUOS, em sua conhecida sigla em inglês), de 20 de junho de 2011 – é “renovar o compromisso político em prol do desenvolvimento sustentável, avaliar os avanços logrados até agora e as deficiências que subsistem na aplicação dos resultados das principais Conferências de Cúpula sobre desenvolvimento sustentável e buscar soluções para os novos problemas”.

A contribuição do COPUOS à Rio+20 se concentra no uso dos dados de satélite (geoespaciais) em benefício dos planos nacionais e globais de desenvolvimento sustentável. Recomendações são feitas sobre como promover a cooperação internacional para fortalecer as infraestruturas nacionais indispensáveis ao uso dos dados. Foi o Brasil que formulou a proposta aprovada no COPUOS de um programa de cooperação internacional para permitir que todos os países do mundo tenham infraestrutura mínima para receber, processar, analisar e usar dados de satélite (e até agregar valor a eles) em proveito de seu desenvolvimento sustentável.

Segundo a Declaração do COPUOS dirigida à Rio+20, os dados espaciais são fundamentais para:

* Vigiar a Terra e seu ambiente, gerando observações sinóticas, contínuas e a logo prazo necessárias para entender cabalmente a Terra como sistema, bem como tecnologias para elaborar modelos de soluções de problemas ligados:

a) à influencia do Sol sobre o ambiente terrestre;

b) ás mudanças climáticas globais;

c) ao impacto da atividade humana sobre o meio ambiente; e

d) à saúde no nível mundial.

* Alimentar com matéria prima essencial para elaborar mapas sobre a evolução dos riscos de catástrofes, os sistemas de alerta prévio, as operações de mitigação de seus efeitos e, em geral, de gestão dos desastres naturais e industriais.

* Produzir previsões meteorológicas e estudos climáticos de excelência, além de estimar os tempos de secas, os regimes de chuvas (precipitações), fundamentais para o acompanhamento da desertificação e o prognóstico de colheitas e inundações.

* Vigiar o estado, a exploração e a evolução dos recursos naturais terrestres e marinhos, de solo, subsolo e submersos, bem como as múltiplas atividades agrícolas e pastoris, em geral de extrema relevância para as economias nacionais.

* Integrar sistemas complexos, junto com infraestruturas de informação e comunicação, favorecendo programas de internet, transmissão de dados, ensino à distância, telemedicina, prestação de serviços médicos e de saúde, fotogrametria, referências geodésicas, navegação e posicionamento por satélite, informações geográficas, cumprimento de tratados e acordos internacionais, prevenção de delitos e respeito à lei.

Essa lista certamente não é exaustiva. Mas já revela o quão vasto é o alcance das benesses propiciadas hoje pela cultura científica e tecnologia espacial, já inserida em definitivo na vida cotidiana de todos os povos.

Resta que ela se integre por inteiro na marcha pelo desenvolvimento sustentável, que deve inaugurar, ainda neste século, novíssima etapa na história humana.

1) Sachs, Ignacy, De volta à mão visível: os desafios da Segunda Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, Revista Estudos Avançados, IEA/USP, noº 74, 2012.

Espaço para o Desenvolvimento Sustentável na Rio+20


Seu objetivo é examinar “a contribuição das tecnologias e informações espaciais em apoio à implementação dos resultados e ações da Rio+20, cujo o tema central é exatamente o desenvolvimento sustentável. O evento, organizado pelo Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (OOSA, na sigla em inglês), dirigido pelo Dr. Mazlan Othman, da Malásia, tem o apoio dos governos do Brasil e da Áustria. Espera-se uma audiência de, pelo menos, 100 pessoas, a maioria ligada a entidades públicas e privadas envolvidas com programas espaciais.

O Brasil abre o encontro, através do Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, ex-presidente da AEB e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Um de seus painéis de maior impacto, sobre Desastres Naturais, será apresentado pelo Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e desenvolvimento do MCTI, Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências, Presidente do Conselho Diretor do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, membro do Comitê Científico do “International Geosphere-Biosphere Programme” (IGBP) e coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais. Nobre também dirige o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), criado em 1º de julho de 2011 pelo MCTI, com a missão de emitir alertas em áreas de risco de inundações , enxurradas e deslizamentos, funcionando diuturnamente.

O evento será conduzido pelo atual Presidente do Comitê das Nações Unidas para o Uso Pacífico do Espaço Exterior (COPUOS), Y. Horikawa,do Japão, tendo como moderador o representante da Nigéria, Ade Abioudun. Seus cinco painéis abordarão os seguintes temas:

1) Dados Geoespaciais, apresentado por membros das organizações internacionais GEO e CEOS (Group on Earth Observatios e Committee on Earth Observation Satellites);

2) Desastres Naturais, confiado ao Brasil;

3) Águas e Oceanos, a cargo de Walther Lichem, Chefe do Departamento de Organizações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores da Áustria, especialista em recursos hídricos;

4) Saúde, confiado ao Dr. Mario Lanfri, da Argentina; e

5) Alimentos, a cargo de membro do Programa Mundial de Alimentação (World Food Programme).


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 13 – Jan à Jun de 2012 - págs. 08 e 09

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