A Ind. Nacional na Área Espacial Perspectivas e Desafios

Olá leitor!

Segue abaixo um artigo publicado na Revista Espaço Brasileiro (Out. Nov. Dez. de 2010), destacando as perspectivas e desafios da indústria nacional na área espacial.

Duda Falcão

A Indústria Nacional na Área
Espacial Perspectivas e Desafios

Célio Vaz*

O Programa Espacial Brasileiro tem sido alvo de pesadas críticas pelo fato de não ter até então se desenvolvido de forma satisfatória no tocante à execução dos projetos. Um dos fortes argumentos é que o Programa deveria encontra-se em um estágio tecnológico muito mais avançado e ter alcançado um número maior de realizações. Os projetos experimentaram e ainda experimentam enormes atrasos nos seus cronogramas de execução , com a ocorrência de falhas tanto na área de satélites, quanto na de veículos lançadores.

No tocante à capacitação industrial no setor espacial, o cenário não é muito diferente. Não se conseguiu implementar com sucesso uma política para consolidação de tecnologias críticas essenciais para o desenvolvimento do setor industrial. As empresas brasileiras dificilmente conseguem sobreviver apenas como fornecedoras do Programa Espacial e encontram dificuldades em se qualificar para competir no mercado internacional de produtos e serviços espaciais. Houve uma evolução tecnológica muito grande em todo mundo nos últimos 20 anos, que não foi possível de ser acompanhada pelas empresas brasileiras atuantes no setor espacial. A despeito deste cenário, a industria nacional tem progressivamente conseguido aumentar seu escopo de fornecimento para o Programa Espacial Brasileiro.

Os cenários das realizações do Programa Espacial Brasileiro e da participação industrial certamente fornecem elementos para o estabelecimento de novas políticas e mecanismos para promover o real desenvolvimento e crescimento da indústria espacial nacional, que certamente estão sendo considerados na recente iniciativa da Agência Espacial Brasileira (AEB) em promover mais uma revisão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).

O desenvolvimento e o crescimento de uma forte base industrial no setor espacial brasileiro podem ser relacionados com o envolvimento do setor industrial tanto nos grandes projetos mobilizadores, como o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS) e o Veículo Lançador de Satélites (VLS), como nos projetos de menor envergadura como o Satélite Amazônia e os foguetes de sondagem, com destaque para o VSB-30, primeiro foguete brasileiro certificado e qualificado para voar no continente europeu.

Além de dar ao setor industrial a oportunidade para fornecer, reproduzir e aperfeiçoar projetos e tecnologias já desenvolvidas, a pergunta que se faz é porque não lançar oportunidades e desafios ao setor industrial também para o desenvolvimento e fornecimento de novos sistemas baseados em micro e pequenas plataformas de satélites e em veículos lançadores de pequena capacidade. Vale destacar recente iniciativa neste sentido concretizada pelo projeto do Satélite de Reentrada Atmosférica – SARA Suborbital, com desenvolvimento inteiramente contratado junto à indústria nacional.

Outra iniciativa que também contribuiria para prover maior dinamismo ao Programa Espacial Brasileiro seria promover, por meio do setor industrial, a atualização dos sistemas espaciais desenvolvidos no âmbito do programa, como por exemplo, a atualização do Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais e a reposição dos Satélites de Coleta de Dados (SCD).

Porque não retomar com força o desenvolvimento dos microssatélites tecnológicos para fins de desenvolvimento, demonstração e qualificação em órbita de tecnologias desenvolvidas tanto nos institutos de pesquisas e universidades como no setor industrial e apoiar o desenvolvimento, com participação das industrias de veículos lançadores nacionais para microssatélites utilizando tecnologias de propelente sólido para os estágios inferiores, e de propelente líquido para os estágios superiores?

Finalmente, o desenvolvimento de novos grandes projetos, tanto na área de satélites, como os geoestacionários, quanto na área de veículos lançadores, devem considerar, desde a sua concepção, o envolvimento da indústria nacional a partir dos níveis sistêmicos mais elevados, até os fornecimentos mais simples de produtos e serviços que possam ocorrer. Somente desta forma os recursos nacionais destinados ao Programa Espacial Brasileiro estarão sendo realmente revertidos em prol da geração de empregos de alto nível, da capacidade tecnológica e do engrandecimento da sociedade brasileira.

O texto acima expressa tão somente a opinião do seu autor e visa contribuir para o crescimento e desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro e do seu setor industrial.

* Diretor da Orbital Engenharia


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 10 - Out. Nov. Dez. de 2010 – pág. 23

Comentário: Veja você leitor o que é um homem de visão. O senhor Célio Vaz expos neste pequeno artigo o que deveria ter sido feito e não foi feito. Enquanto isso, o presidente da AEB, o senhor Carlos Ganem ficou se vangloriando em seu relatório de gestão (já postado aqui no blog) de ser um grande negociador, sem perceber que os bons negociadores são bons assessores, jamais presidentes. Em outras palavras, estava no cargo errado. Mas fazer o que, é esperar que o senhor Marco Antônio Raupp, conhecido por ser um realizador possa mudar esta situação, mas para tanto terá de ter o apoio do governo e em minha modesta opinião, é ai que a coisa pega. Vamos aguardar e torcer.

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