Inovação e Tecnologia Contribuem para a Área Espacial


Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria publicada na nova edição da Revista Espaço Brasileiro (Jan. Fev. Mar. de 2010) destacando que a inovação e novas tecnologias em desenvolvimento estão contribuindo para a área espacial.

Duda Falcão

Pesquisa

Inovação e Tecnologia Contribuem para a Área Espacial

Iniciativa da AEB, o Anúncio de Oportunidades,
do Programa Uniespaço, estimula a realização
de estudos e projetos para atender às demandas do setor

Cada vez mais os países investem na pesquisa e no desenvolvimento de novas tecnologias. No Brasil, o panorama não é diferente. Conciliando academia e pesquisas em laboratórios e de campo, uma infinidade de profissionais busca a descoberta de inovações em prol da melhoria de qualidade de vida de milhões de pessoas, superando novos desafios. São inegáveis os avanços na área aeroespacial nas ultimas décadas, embora ainda existam muitos cenários desafiadores.

A atividade espacial é algo complexo, que requer planejamento e maturação. Seus benefícios são inquestionáveis. Por meio das comunicações por satélite, distancias ficaram mais curtas, permitindo uma maior interação entre setores como saúde e educação. Satélites de observação da Terra possibilitam que as previsões meteorológicas sejam cada vez mais acuradas. Tudo isso é imprescindível para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.

A Agência Espacial Brasileira (AEB), por meio do Programa Uniespaço, com o Anúncio de Oportunidades (AO), fomenta, desde 2004, a realização de estudos e projetos de pesquisa, integrando o setor universitário e instituições de ensino em geral à realização das atividades do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), visando atender às demandas tecnológicas, no desenvolvimento de produtos, processos, análises e estudos.

Em 2009, na terceira edição do AO, dos 59 projetos inscritos, 33 foram aprovados. No total, serão repassados o equivalente a R$ três milhões, em 24 meses, para a utilização dos recursos na pesquisa e execução. Nos três anúncios de oportunidade que a AEB já lançou, 44 projetos foram beneficiados.

Em todas as edições, consultores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) sempre analisaram o conjunto de projetos levando em consideração a relevância, competência e a capacidade de execução. Considera-se, também, a pertinência da proposta apresentada e o mérito técnico-científico.

Integração - “A idéia é engajar as universidades no esforço brasileiro de domínio das tecnologias espaciais”, afirma o diretor de Satélites, Aplicações e desenvolvimento da AEB e responsável pelo programa, Thyrso Villela. “Buscamos estimular e ampliar a participação de universidades e outras instituições de pesquisa no PNAE, além de promover projetos de pesquisa a partir de temas selecionados pelo Programa, gerando produtos tangíveis e não-tangíveis. Esses produtos podem incluir o desenvolvimento de protótipos e o aprimoramento de núcleos de pesquisa e desenvolvimento, capacitando-os a executar projetos de maior vulto e complexidade”, acentua Thyrso.

No Anúncio de Oportunidade de 2009, Veículos Espaciais foi à temática de 17 dos projetos aprovados. Sete abordaram Controle Embarcado de Satélites Artificiais e três, Sensoriamento Remoto, além de Materiais.

GPS: Equipamento que também pode ser utilizados em foguetes

GPS - A utilização de receptores do Sistema de Posicionamento Global - GPS (sigla em inglês significa Global Positioning System e em português Geo-Posicionamento por Satélite) é ampla. Dados fornecidos pelos satélites são fundamentais na realização de ligações telefônicas, nas previsões meteorológicas, nas áreas de transportes, esportes, defesa civil, topografia, entre outras. O uso desse equipamento em foguetes também é possível, principalmente pelo fato de possibilitar o rastreio do veículo de uma forma bastante precisa e com custo relativamente baixo, comparado a outras técnicas existentes, como a engenharia de radar.

A proposta do professor do Departamento de Engenharia da Computação e Automação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Francisco das Chagas Mota de inserir o projeto GPS - específico para artefatos espaciais, no Uniespaço, surgiu em 2004. “Voltei dos Estados Unidos, após concluir o pós-doutorado no Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque. O Anúncio de Oportunidades se enquadrava perfeitamente no tema que tinha desenvolvido: um protótipo de GPS para uso em foguetes de sondagem. Submeti a proposta de projeto, a qual me permitiu dar continuidade à atividade no Brasil”, recorda.

O projeto, que também contou com a participação do engenheiro do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) e mestrando, Glauberto de Albuquerque e do mestre Manoel Mafra de Carvalho, poderá, por meio de uma parceria entre o Centro, localizado em Parnamirim (RN) e a UFRN, garantir melhor desempenho nos lançamentos de foguetes. Francisco da Chagas estuda a possibilidade de incorporar o novo sistema em futuros lançamentos dos foguetes de treinamento.

FTB - O receptor de GPS substitui as plataformas inerciais que tem a função de informar a posição e a velocidade dos foguetes. “Os lançamentos dos Foguetes de Treinamento Básico (FTB) são mais freqüentes, com condições mais dinâmicas e severas. O GPS seria um componente perfeito”, observa o professor. O primeiro protótipo do GPS foi embarcado, em dezembro de 2007, no VS-30, durante a Operação Angicos, no CLBI. Além da possibilidade do dispositivo ser utilizado nos FTBs, o equipamento, com software nacional, deverá ser embarcado no lançamento do VSB-30.

Francisco avalia que iniciativas como o Programa Uniespaço são fundamentais para pesquisa. “Proporcionam maior participação da comunidade acadêmica no desenvolvimento de novas tecnologias no setor aeroespacial, sem as quais o Brasil não poderia jamais atingir um nível de desenvolvimento comparável às nações do Primeiro Mundo. Como se trata de uma área estratégica, há uma grande dificuldade de repasse de tecnologia das nações que as detém para outros países”, ressalta.

Determinador de Atitude

Determinador de Atitude - Quando se fala em determinar orientação ou atitude, a primeira idéia que surge é a aplicação em satélites artificiais, veículos aéreos, terrestres e marinhos. No entanto, essa percepção de aplicação de sistemas que determinam a atitude vem mudando devido à quantidade de aplicações que surgiram nos últimos cinco anos. Destacam-se, entre outras, o sistema de controle de estabilidade em automóveis, que possibilita manter a estabilidade do veículo de maneira automática, impedindo a perda da dirigibilidade em situações críticas de condução e evitando acidentes; robôs e/ou sistemas autômatos, que necessitam de orientação para se movimentar com precisão, dispositivos de auxílio a pessoas com deficiência ou na medicina de reabilitação, como uma cadeira de rodas inteligente capaz de determinar inclinações e facilitar superação de obstáculos e a nova geração de controles para jogos eletrônicos que utilizam o movimento humano para controlar os jogos, permitindo uma geração de jogos com um realismo muito maior.

A intenção de submeter o projeto de um determinador de atitude baseado em sensores Micro Electro Mechanical Systems - Microsistemas Eletrônicos (MEMS) ao Anúncio de Oportunidades da AEB, surgiu durante uma visita ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), recorda o coordenador, professor Marcelo Carvalho Tosin, bacharel em Física pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP). “Apresentamos dois projetos em duas edições do Anúncio. Ambos foram aprovados e financiados pela AEB”. Segundo ele, a possibilidade da determinação da orientação de objetos após a introdução da tecnologia MEMS para fabricação de sensores inerciais – que medem aceleração e rotação – e outros formou rapidamente uma nova classe de problemas para a comunidade científica. “Tecnologias antes restritas ao uso militar e aeroespacial agora estão sendo adaptadas para aplicações do nosso cotidiano, devido a dramática redução de custos proporcionada por estes sensores”, explica. Porém, como os sensores MEMS são bastante rudimentares ainda são necessários desenvolvimento e pesquisa para viabilizar certas aplicações.

Fomento - Para Marcelo, o Uniespaço fomenta projetos de pesquisa na área aeroespacial em várias universidades de nosso país. “Isso permitiu que núcleos de estudo em diversos segmentos fossem criados, disseminando e descentralizando a pesquisa aeroespacial em âmbito nacional. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL) esse projeto deu início a um núcleo de pesquisa em instrumentação eletrônica e sistemas inerciais. Hoje temos várias iniciativas nesta área sendo desenvolvidas, formando mão de obra especializada por meio do mestrado, criando tecnologias que, futuramente, poderão ser utilizadas não somente neste segmento, mas em inúmeras aplicações”, destaca.

Participam do projeto, o seguinte grupo de professores e alunos de mestrado do Departamento de Engenharia Elétrica (DEEL) da Universidade Estadual de Londrina (UEL): Francisco Granziera Júnior, Luís Guilherme Gimenez de Souza, Nelson Seiji Takahasni, Osmar Tormena Júnior, André Marques de Souza, Tiago Augusto Santana e Renan Gustavo Godoi, além do mestre em Engenharia Elétrica Luís Carlos de Albuquerque Silva e Dr. Roberto Vieira da Fonseca Lopes, do INPE, que atuou como colaborador.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 8 Jan. Fev. Mar. de 2010 - págs 26 e 27

Comentário: Não resta dúvida quanto aos benefícios que o “Programa UNIESPAÇO” vem trazendo ao Programa Espacial Brasileiro desde que foi criado em 2004, apesar de que na opinião blog esses resultados são ainda tímidos para o que poderia ter sido feito neste período se houvesse por parte do governo o interesse em transformar o PEB em um programa realmente estratégico. Outra ação da AEB que tem alcançado bons resultados (apesar das dificuldades) é o Programa AEB Escola, que tem cumprido bem (dentro das condições que o pífio orçamento permite) a sua missão de promover entre os jovens brasileiros o Programa Espacial do país. Já o “Programa Microgravidade”, este chega até ser piada de mau gosto, só existe no papel, pois a sua rara freqüência de vôos não permite que o mesmo tenha uma consistência de desenvolvimento dos projetos aprovados nos chamados AOs (Anúncios de Oportunidades) publicados para o programa. Um bom exemplo disto é o ultimo AO, publicado em 21/11/2006 e só agora em setembro (pelo menos é o que se espera) a primeira parte deste AO (lançamento dos experimentos através do foguete VSB-30) será realizada do Centro de Lançamento de Alcântara, ou seja, quase quatro anos depois. Já a segunda parte deste AO (lançamento dos experimentos através de uma nave Soyuz para serem testado abordo da Estação Espacial Internacional (ISS)) só Deus sabe quando isso ocorrerá. Não há como negar que desde a integração da AEB ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) as ações do PEB têm sido prejudicadas pela inércia em se tomar decisões necessárias em prol do programa espacial devido muito provavelmente pelo grande número de setores da ciência e tecnologia coordenados por este ministério e pela já conhecida falta de interesse do governo Lula pelo programa. Já passou da hora de dar uma basta nisto, chega de inércia, a AEB tem de sair da coordenação do MCT, ganhar roupagem nova, torna-se independente através da transformação do PEB em um programa de estado e quem sabe até assumir o status de ministério ou algo parecido.

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